TDAH: o que é, sintomas, diagnóstico e tratamento

O TDAH é muito comum na infância e pode estender-se até a adolescência e a fase adulta

18 de outubro de 2023 - às 12h34 (atualizado em 18/10/2023, às 12h34)

mãe tenta fazer ioga, com uma criança de cada lado pedindo atenção e gritando
Crédito:

Envato

Escrito por

Dayana Bonetto

Redatora Let's Move 360

Cada criança tem seu ritmo de aprendizado. É normal quando algumas delas apresentam dificuldades na fase escolar. Porém, é preciso que professores e pais percebam quando algumas ações comportamentais começam a interferir em atividades rotineiras. A falta de concentração nos estudos pode ter origem dentro do cérebro, na comunicação entre os neurônios. Esse problema tem nome: Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Rosângela Batista, neuropsicóloga, especialista em terapia cognitivo-comportamental, Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e em neurociência, explica que TDAH é um transtorno neurobiológico, geralmente diagnosticado a partir dos três anos de idade. Pode ser entendido como um cérebro com imaturidade no processo de atenção, concentração, controle da atividade motora e nos impulsos. “O TDAH, também chamado às vezes de Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA), é muito comum na infância e pode estender-se até a adolescência e a fase adulta. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), ele consiste em um transtorno do neurodesenvolvimento, que possui uma etiologia multifatorial. É um distúrbio neurobiológico crônico que se caracteriza pela desatenção, impulsividade e agitação motora. Em sua neurobiologia, dá-se pela baixa de dopamina e noradrenalina nas funções do cérebro”, esclarece. 

 

De acordo com Batista, o TDAH é um distúrbio que afeta de 3% a 5% das crianças em idade escolar, sendo mais prevalente entre os meninos. Na primeira infância, o mais comum são os sintomas de hiperatividade, principalmente neles. Em estudos epidemiológicos, não se nota tanta diferença na prevalência do transtorno entre os gêneros, mas, em ambiente clínico, como ambulatórios e consultórios médicos, especialistas da saúde indicam que há um maior número de meninos. Existe a hipótese de que os meninos demonstram TDAH por causa da hiperatividade e as meninas, pela desatenção.

 

De acordo com o Ministério da Saúde (MS), dados da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA) indicam que o número de casos de TDAH variam entre 5% e 8% em nível mundial. Estima-se que 70% das crianças com o transtorno apresentam outra comorbidade e pelo menos 10% apresentam três ou mais comorbidades.

 

Graus de TDAH: leve, moderado e grave

 

Batista ressalta que é fundamental compreender que o TDAH possui três graus distintos: leve, moderado e grave. Ela explica que cada um apresenta características específicas que influenciam no dia a dia. “No grau leve, as crianças apresentam sintomas do TDAH, mas em uma intensidade menor. Elas podem ter dificuldades comportamentais e de atenção, mas são desafios mais gerenciáveis e têm um impacto menor na vida escolar e social. No grau moderado, os sintomas são mais evidentes e afetam a rotina. As dificuldades de atenção e comportamentais podem ser maiores, impactando o desempenho escolar e as interações sociais. No grau grave, os sintomas são altamente expressivos e causam um impacto funcional significativo. Nesse nível, as dificuldades escolares e sociais são acentuadas, tornando-se desafiadoras de gerenciar”, afirma.

 

Sintomas de TDAH

 

Os sintomas do TDAH envolvem um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interferem no funcionamento e no desenvolvimento da criança. Podem ser percebidos na criança que:  

 

  • Não consegue aguardar a vez de falar, respondendo a uma pergunta antes que seja terminada ou completando a frase dos outros;

 

  • Interrompe ou se intromete em conversas e atividades, tentando assumir o controle do que os outros estão fazendo ou usando coisas dos outros sem pedir;

 

  • Levanta da cadeira em sala de aula ou em outras situações onde se espera que permaneça sentado;

 

  • Corre ou sobe em coisas, em situações onde isso é inapropriado ou, em adolescentes ou adultos, tem sensações de inquietude;

 

  • Não consegue ou não se sente confortável em ficar parado por muito tempo, em restaurantes, reuniões e outros;

 

  • Fala demais;

 

  • Deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, de trabalho ou durante outras atividades;

 

  • Não segue instruções e não termina deveres de casa, tarefas domésticas ou tarefas no local de trabalho;

 

  • É facilmente distraído por estímulos externos. Para adolescentes mais velhos e adultos, pode incluir pensamentos não relacionados;

 

  • Não escuta quando lhe dirigem a palavra;

 

  • Tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas;

 

  • É esquecido em relação a atividades cotidianas;

 

  • Evita, não gosta ou reluta em se envolver em tarefas que exigem esforço mental prolongado, como tarefas escolares, deveres de casa, preparo de relatórios e outros;

 

  • Tem dificuldade para organizar tarefas e atividades;

 

  • Perde objetos necessários às tarefas ou atividades;

 

  • Remexe ou bate com as mãos e os pés ou se contorce na cadeira.

Fatores de risco

 

De acordo com a psicóloga Lizandra Arita, pesquisas sugerem que é uma condição influenciada por uma combinação de fatores genéticos, neurobiológicos e ambientais. Ela explica:

 

  • Fatores genéticos: estudos indicam forte influência genética no TDAH. Se um membro da família tem TDAH, há maior probabilidade de outros parentes também apresentarem a condição. No entanto, o TDAH é multifatorial, o que significa que vários genes provavelmente estão envolvidos, e não há um único gene responsável;

 

  • Desequilíbrio neurobiológico: o TDAH está associado a diferenças na função e na estrutura do cérebro, principalmente em áreas que regulam a atenção, o controle de impulsos e a regulação do comportamento. Alterações nos neurotransmissores, como a dopamina e a noradrenalina, desempenham um papel importante na manifestação dos sintomas do TDAH;

 

  • Fatores ambientais: embora o TDAH seja fortemente influenciado por fatores genéticos, também é afetado por fatores ambientais. A exposição a substâncias tóxicas durante a gravidez, como o tabaco e o álcool, bem como complicações durante o parto, podem aumentar o risco de desenvolver TDAH em algumas crianças;

 

  • Lesões cerebrais ou trauma: lesões cerebrais ou trauma craniano na infância podem contribuir para o desenvolvimento do TDAH em alguns casos;

 

  • Baixo peso ao nascer e prematuridade: algumas pesquisas sugerem que bebês que nasceram com baixo peso ou prematuramente podem ter um risco ligeiramente maior de desenvolver TDAH.

 

Critérios de diagnóstico de TDAH

 

Segundo Batista, como critérios de diagnóstico, existem dois subtipos: desatenção e hiperatividade/impulsividade. “Em relação à desatenção são observados sintomas como dispersão, problemas em manter o foco, na priorização de estímulos e na capacidade de se concentrar em um estímulo específico. Já na hiperatividade, é notada agitação excessiva e inquietude frequente, não conseguindo permanecer quietos e relaxados. A impulsividade caracteriza-se pela tomada de decisões rápidas, sem considerar as consequências e sem planejamento prévio”, esclarece.

 

Arita explica que o diagnóstico do TDAH requer uma avaliação cuidadosa por profissionais de saúde mental, como psicólogos, psiquiatras ou neuropediatras. Ela indica que normalmente as etapas são:

 

  • Avaliação clínica: o primeiro passo é uma avaliação clínica minuciosa, que envolve a coleta de informações detalhadas sobre o histórico médico, sintomas atuais e história de desenvolvimento do paciente; é importante para o profissional entender como os sintomas do TDAH afetam a vida cotidiana da criança;

 

  • Entrevistas e questionários: os profissionais frequentemente conduzem entrevistas com o paciente e com membros da família ou cuidadores para obter informações sobre os sintomas em diferentes ambientes, como em casa e na escola; além disso, questionários padronizados podem ser usados para avaliar os sintomas;

 

  • Exclusão de outras condições: é importante descartar outras condições médicas ou psicológicas que possam ter sintomas semelhantes ao TDAH, como transtornos de ansiedade, depressão ou distúrbios de aprendizagem;

 

  • Avaliação neuropsicológica: em alguns casos, uma avaliação neuropsicológica pode ser realizada para examinar funções cognitivas, como atenção, memória e impulsividade, para fornecer informações adicionais.

 

Tratamentos disponíveis para TDAH

 

De acordo com Arita, o tratamento adequado do TDAH em crianças pode incluir psicoterapia comportamental, intervenções educacionais, apoio familiar e, em alguns casos, medicação. Ela explica que essas abordagens podem ajudar a criança a lidar com os sintomas do TDAH, melhorando sua qualidade de vida, seja na escola, no convívio social ou em casa. Arita destaca algumas opções de tratamentos:

 

  • A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) pode ser indicada para crianças com TDAH, mas é mais frequentemente aplicada em adolescentes e adultos. A TCC é uma abordagem terapêutica que se concentra em ajudar a reconhecer e modificar padrões de pensamento disfuncionais e comportamentos inadequados. Em crianças com TDAH, pode ser necessário adaptar as técnicas da TCC para torná-las mais acessíveis e compreensíveis para a faixa etária;

 

  • Apoio e intervenção educacional envolvem modificações no ambiente escolar, como currículo adaptado e estratégias de ensino específicas, que ajudam as crianças com TDAH a obter sucesso na escola;

 

  • O treinamento de pais educa os responsáveis sobre o TDAH e fornece estratégias para lidar com os desafios associados ao transtorno;

 

  • Fármacos estimulantes, como metilfenidato ou anfetaminas, são frequentemente prescritos para reduzir os sintomas de hiperatividade e impulsividade, aumentando a capacidade de concentração. No entanto, o uso de medicamentos deve ser supervisionado por um médico, pois pode apresentar efeitos colaterais;

 

  • Não estimulantes, como a atomoxetina, podem ser considerados em casos em que os estimulantes não são eficazes ou bem tolerados;

 

  • Apoio psicossocial e grupos de apoio permitem aos pacientes compartilhar experiências, obter apoio emocional e aprender estratégias de enfrentamento com outras pessoas que vivenciam o TDAH;

 

  • Estratégias de autogerenciamento, como planejamento e organização, auxiliam a melhorar o funcionamento diário, incluindo o uso de listas de tarefas e sistemas de organização;

 

  • Um estilo de vida saudável, que envolve alimentação equilibrada, exercícios físicos regulares e boa higiene do sono, pode contribuir para a redução dos sintomas do TDAH.

 

Arita ressalta que cada paciente é único, e o tratamento ideal pode variar. Ela destaca que a colaboração entre o paciente, a família e uma equipe de profissionais de saúde, incluindo psicólogos, psiquiatras e educadores, é essencial para determinar a abordagem mais eficaz. “O tratamento adequado pode melhorar a qualidade de vida das crianças com TDAH, ajudando-as a gerenciar seus sintomas, aumentar a autoestima, melhorar o desempenho acadêmico e fortalecer os relacionamentos interpessoais”, pontua.

 

 

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