Constelação familiar sistêmica: saiba o que é, para que serve, como funciona e seus benefícios

A terapia é uma ferramenta que busca colocar em ordem todo um sistema, que deve estar baseado no amor

3 de abril de 2023 - às 20h52 (atualizado em 24/8/2023, às 13h39)

bonequinhos de madeira representam uma família
Crédito:

Envato

Escrito por

Margarida Chiarastelli

Redatora

Várias partes compõem um sistema e quando uma destas partes apresenta um problema surge um desequilíbrio no todo. E para trazer a harmonia de volta a este sistema é preciso reparar o problema. É mais ou menos assim, fazendo uma analogia bem simples, que atua a Constelação familiar sistêmica.

Como sistema, entende-se uma família, uma empresa, uma escola, ou mesmo um indivíduo. Por isso o sistêmica, que acompanha o nome da terapia constelação familiar, que é inclusive oferecida pelo SUS – Sistema Único de Saúde, por meio das PICS – Práticas Integrativas e Complementares. 

A constelação familiar sistêmica também vem sendo aplicada no sistema jurídico no Brasil, tanto em questões familiares como empresariais. A utilização dessa ferramenta pode ajudar os envolvidos a perceberem as causas que levaram à controvérsia, bem como auxiliar na busca de uma solução para a questão.

Em 2022, a constelação familiar se popularizou por meio da série Uma Nova Mulher, produção turca lançada em julho do ano passado. Em menos de um mês, a produção chegou ao Top 10 da Netflix no Brasil. A história gira em torno de três amigas que viajam para um lugar paradisíaco, na Turquia, em busca de uma nova conexão espiritual, mas têm que enfrentar traumas familiares do passado.

 

O que é a constelação familiar sistêmica

A Constelação Familiar Sistêmica é um método criado pelo psicoterapeuta alemão Bert Hellinger (1925-2019). Seu criador se referia ao método como filosofia aplicada.

É uma ferramenta terapêutica que busca colocar em ordem todo um sistema que deve estar baseado no amor. Segundo Hellinger, pode-se encontrar em todas as famílias, ou sistemas, as três ordens do amor, também conhecidas como as três leis sistêmicas:

  • Pertencimento;
  • Hierarquia;
  • Equilíbrio.

Pertencimento

A partir do momento em que nascemos pertencemos a uma família. Essa noção de pertencimento é um direito natural, seja numa empresa, numa associação, numa cidade. É o vínculo que se estabelece nas relações.

Hierarquia 

O lugar que se ocupa nas relações, seja familiar ou profissional. Numa família, por exemplo, existem avós, pai e mãe, filhos, netos… Se um filho ocupa o lugar do pai quando este morre, mesmo de forma amorosa, ele deixa de ocupar o lugar de filho e isso pode gerar um desequilíbrio no sistema.

Equilíbrio

Esta lei é a harmonia entre dar e receber. Este equilíbrio é fundamental para relações mais profundas e justas.

 

Para que serve a constelação familiar sistêmica?

“Gosto de dizer que uma situação que nos desafia ou nos causa problemas pode ser comparada com a ponta de um iceberg. Para sair dessa região de gelo, é necessário conhecer o tamanho do bloco que está abaixo da água. As constelações vão nos mostrando o que está abaixo da linha da água de nossos icebergs pessoais. Sair da região congelada envolve movimentos conscientes em direção a um novo caminho”.

É assim que Flávia Costa e Silva, socióloga, especialista em Saúde Coletiva, mestre em Educação, practitioner em Somatic Experiencing e Consteladora Familiar e Sistêmica, define em que momento e como a constelação familiar pode ajudar uma pessoa ou um grupo. A seguir, veja a lista de benefícios da terapia, ou vivência, como ela prefere chamar, feita por Flávia:

Serve para promover:

  • Movimentos de compreensão sobre uma determinada situação;
  • Movimentos de reconciliação com aspectos da própria pessoa, como por exemplo memórias da infância e juventude;
  • Movimentos de reconciliação com pai, mãe, irmãos, avós e integrantes do sistema familiar;
  • Movimentos de ordenação (colocar em ordem) de um sistema familiar e ou organizacional;
  • Movimentos de resolução de conflitos pessoais, familiares e organizacionais;
  • Movimentos de expansão da consciência em direção à inovação na vida e nos negócios;
  • Movimentos de ajuda na relação com o trabalho, dinheiro e relacionamentos em geral;
  • Até mesmo movimentos que oferecem ajuda na forma de lidar com situações de enfermidades físicas;
  • a ajuda em questões que dizem respeito às dinâmicas de relacionamentos na vida;
  • Movimentos de cura da alma.

 

Como funciona uma constelação familiar sistêmica 

A constelação familiar sistêmica é uma técnica terapêutica que ajuda as pessoas a explorar as dinâmicas ocultas em seus relacionamentos e sistemas familiares. Ela pode ser conduzida em sessões individuais ou em grupo.

A principal diferença entre as sessões em grupo e as sessões individuais de constelação familiar sistêmica é o número de participantes e o tipo de dinâmica que se estabelece.

Sessão individual

O terapeuta trabalha exclusivamente com o cliente e, às vezes, pode usar objetos ou bonecos para representar membros da família ou outras pessoas importantes. Isso permite que o terapeuta se concentre nas questões pessoais do cliente e trabalhe com ele em um ambiente mais privado.

Sessão em grupo

O processo começa com a pessoa que está buscando ajuda, que apresenta um problema ou questão. O terapeuta, também chamado de facilitador ou constelador, faz algumas perguntas e solicita que a pessoa escolha outros participantes do grupo para representar membros da família ou do sistema envolvido. Em seguida, o facilitador orienta os representantes para que se posicionem no espaço, de acordo com suas sensações corporais e emoções.

A partir daí, o facilitador trabalha com os representantes para desvendar as dinâmicas e os emaranhamentos sistêmicos envolvidos na situação, até que possa ser encontrada uma solução satisfatória para a questão.

Qual a melhor sessão para constelar – individual ou em grupo?

Em geral, as sessões em grupo tendem a ser mais poderosas e intensas do que as sessões individuais, pois oferecem a oportunidade de ver as dinâmicas familiares ou sistêmicas em ação e trabalhar em conjunto com outras pessoas que possam compartilhar experiências semelhantes. As sessões individuais, por outro lado, podem ser mais apropriadas para questões mais pessoais ou sensíveis.

 

Quais os benefícios da constelação familiar sistêmica

Normalmente, basta uma sessão para que a terapia aponte caminhos para a solução do problema. Mas, claro, existem variações no resultado.

“Uma constelação produz uma imagem de solução para uma determinada situação, cabe à pessoa tomar a força dessa imagem para a mudança de comportamento e postura. Algumas vezes, os efeitos são bem rápidos e reverberam, inclusive, nas outras pessoas. Em outras, é necessário um tempo e aprofundamento maior”, explica Flávia.

Uma nova sessão depende do constelado (é assim que é chamado o paciente), caso ele queira aprofundar os movimentos. O tempo recomendado para um retorno é de três a seis meses. Mas, cada caso tem suas particularidades.

 

As constelações no sistema jurídico

Advogada, mediadora e consteladora familiar (com formações pela Hellinguer Schule Brasil e Frederico Ciongoli), Lilian Theodoro Fernandes afirma que a constelação sistêmica é uma excelente ferramenta quando aliada à expertise jurídica.

“O que constatamos é que os conflitos jurídicos são resultantes de dinâmicas entre as pessoas que muitas vezes estão ocultas. Nesse sentido, vemos que as demandas jurídicas têm algo mais profundo não resolvido no sistema do cliente e que pede para ser olhado e acolhido”, exemplifica a advogada. Ela ressalta que aplicar o método depende exclusivamente da anuência do cliente.

Lilian esclarece que não vê a constelação como uma ferramenta mágica e milagrosa de solução dos processos. “Como advogada, esse conhecimento me ajuda a olhar meu cliente e a questão trazida de forma mais ampla. Entendo cada cliente como pertencente a um sistema, seja ele familiar ou organizacional, e que cada conflito traz algo desse cliente que quer ser visto e solucionado”, afirma.

 

Constelação familiar sistêmica e a polêmica da pseudociência

“Consideramos ciência apenas o que já está provado de acordo com normas preestabelecidas. Mas se nos limitarmos apenas ao que já existe, jamais provaremos coisas novas, a ciência jamais teria se desenvolvido tanto quanto se desenvolveu”, acredita a advogada Lilian.

O fato de a constelação familiar ser apontada como um pseudociência não a preocupa. No entanto, ela enumera uma série de condições para embasar o uso dessa ferramenta. “Desde que tenhamos em mente que qualquer prática ou trabalho deve ser feito com o cuidado e respeito necessários. É preciso muito estudo, aprofundamento no conhecimento, inteligência crítica, diálogo e trocas com pessoas mais experientes”.

Para Lilian, o conhecimento das constelações pode ajudar o profissional do direito em sua postura nos conflitos. “Sabemos que muitas vezes, nós, advogados, nos colocamos como salvadores dos clientes e nos sentimos responsáveis pelo destino de cada um. Conhecer a constelação me ajudou a entender que há todo um sistema familiar ou organizacional que pede para ser olhado quando eu trabalho com um cliente”.

O uso da constelação familiar sistêmica por advogados é um processo que ainda está em desenvolvimento. Por isso, a advogada pondera que “pode acontecer de profissionais menos experientes, no afã de ajudar a pessoa, saiam de seus lugares e promovam intervenções inapropriadas”.

Ela ainda faz uma comparação entre a constelação e o direito: “Não por acaso, a estátua da justiça tem uma venda nos olhos e uma balança em suas mãos – a justiça é a busca pelo equilíbrio sem deixar que os meus julgamentos pessoais recaiam sobre a questão dos clientes”.

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