Práticas integrativas e complementares: conheça as alternativas disponíveis no SUS

As Práticas Integrativas e Complementares (Pics) são, em sua maioria, práticas milenares, que por muitos séculos foram a única terapêutica disponível no mundo

6 de abril de 2023 - às 18h06 (atualizado em 24/8/2023, às 13h45)

mulher meditando
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Envato

Escrito por

Margarida Chiarastelli

Redatora

Disponibilizadas para todos os cidadãos brasileiros, por meio do Sistema Único de Saúde – SUS, as Práticas Integrativas e Complementares (Pics) são, em sua maioria, práticas milenares, que por muitos séculos foram a única terapêutica disponível. Elas se baseiam no cuidado centrado na pessoa, mais humanizado e de baixo custo. Incluem uma escuta acolhedora, estabelecendo um vínculo terapêutico. Visam a recuperação da saúde do indivíduo, a prevenção e promoção da saúde, além de estimular o autocuidado.

Cada país tem sua tradição e cultura. Assim, as Pics incluem práticas da medicina chinesa, da ayurveda, da filosofia alemã, entre outras terapias que podem ser consideradas alternativas.

 

Como essas práticas integrativas chegaram ao SUS

As Pics foram recomendadas a ser inseridas em todos os serviços de saúde da atenção primária, desde a Conferência Internacional de Cuidados Primários à Saúde, em 1978, que aconteceu no Cazaquistão e gerou o documento Alma Ata, considerado um marco na promoção da saúde para todos os povos do mundo.

A Organização Mundial da Saúde – OMS defendeu naquele encontro que a saúde tem de ser entendida como “completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade”.

No Brasil, a 8ª Conferência Nacional de Saúde, de 1986, deliberou sua introdução na assistência à saúde, possibilitando ao usuário escolher sua prática preferida. A 9ª Conferência Nacional de Saúde, de 1996, aprovou a incorporação das Pics no Sistema Único de Saúde (SUS) e, em 2006, teve sua instituição legal através da portaria 971 de política nacional de Pics.

Segundo Francinete de Araújo, bióloga do Centro de Referência em Prática Integrativas e Complementares em Saúde (CRPics) Ermelino  Matarazzo, visando uma atenção integral ao paciente, desde 2001, as práticas integrativas já acontecem no município de São Paulo. Em 2008, ocorreu a regulamentação por meio da lei municipal 14.682.

 

Quais são as práticas integrativas oferecidas pelo SUS

Atualmente, o SUS oferece 29 Pics regulamentadas pelo Ministério da Saúde – MS:

  • apiterapia;
  • antroposofia;
  • aromaterapia;
  • arteterapia;
  • ayurveda;
  • biodança;
  • bioenergética;
  • constelação familiar;
  • cromoterapia;
  • dança circular;
  • fitoterapia e plantas medicinais;
  • geoterapia;
  • hipnoterapia;
  • homeopatia;
  • imposição de mãos;
  • medicina tradicional chinesa (MTC) – acupuntura – auriculoterapia;
  • meditação;
  • musicoterapia;
  • naturopatia;
  • osteopatia;
  • ozonioterapia;
  • quiropraxia;
  • reflexoterapia;
  • reiki;
  • shantala;
  • terapia comunitária integrativa;
  • terapia de florais;
  • termalismo e crenoterapia;
  • yoga.

A inclusão das Pics está dentro da meta a ser cumprida pelas Organizações Sociais de Saúde (OSSs), que administram alguns serviços de saúde no município. Todo serviço oferece algumas das 29 Pics, incluindo Unidades Básicas de Saúde – UBSs, por exemplo. Além disso, há muitos anos, são oferecidas nos seis Centros de Referência em Prática Integrativas e Complementares em Saúde (CRPics) da cidade, no Hospital Municipal Maternidade – Escola Dr. Altenfelder de Moraes – Cachoeirinha e no Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM).

 

Centros de Referência em Prática Integrativas e Complementares em Saúde (CRPics) 

  • CRPics Ermelino Matarazzo;
  • CRPics Guaianases;
  • CRPics São Mateus;
  • CRPics Cidade Tiradentes;
  • CRPics Bosque da Saúde;
  • CRPics Sé.

 

Como acessar as prática integrativas e complementares no SUS

Quando os usuários procuram o serviço que disponibiliza as Pics, são acolhidos, com escuta qualificada e são apresentados às Pics existentes para definirem, em conjunto, a que melhor lhe convém. “Qualquer cidadão pode participar. Na maioria dos serviços em que são oferecidas, não há necessidade de inscrição prévia. Já em outros serviços, a pessoa precisa somente estar frequentando grupos já existentes. Somente acupuntura está na agenda regulada e precisa de encaminhamento médico”, explica Francinete.

Os interessados nos tratamentos devem primeiramente procurar a UBS mais próxima da sua residência para o encaminhamento.

 

CRPics Bosque da Saúde: uma unidade modelo

O Centro de Referência em Prática Integrativas e Complementares em Saúde (CRPics) Bosque da Saúde, da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo (SMS), oferece tratamentos complementares em acupuntura, homeopatia, auriculoterapia, entre outras práticas, gratuitamente, para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) da capital. O espaço tem capacidade para 1.296 sessões em acupuntura, 288 consultas gerais, 264 consultas especializadas em homeopatia e, em média, 70 sessões de auriculoterapia a cada mês.

O CRPics – Bosque da Saúde é referência municipal da rede das Pics. De acordo com o médico acupunturista Iran Cavalcanti, que atua no espaço há 14 anos, quase todos os atendimentos que realiza estão no espectro ortopédico, como artrose no joelho e dores lombares. “Mas também funciona com sucesso para casos de insônia, ansiedade e cefaleia. Todos os tratamentos aqui são integrados, assim, recomendamos aos pacientes que também frequentem sessões de fisioterapia e pratiquem o autocuidado, que significa a melhora da postura e outras atitudes, que colocam as pessoas como as próprias protagonistas da busca pela qualidade de vida”, ensina o acupunturista.

Segundo levantamento feito na unidade, 65% dos pacientes atendidos no local são do sexo feminino e 35% do sexo masculino, a média de idade varia entre 50 e 59 anos.

De acordo com a médica Rossana Mousinho Siegl, que trabalha no local há cinco anos e coordena grupos de meditação, é preciso investir no autoconhecimento. “Se a pessoa é hipertensa, por exemplo, isso pode estar relacionado ao estilo de vida dela. É preciso primeiro reorganizar a vida. A homeopatia não cura doenças crônicas e, sim, deve fazer parte de um processo de mudança de estilo de vida, que muitas vezes pede a complementação de outras práticas, inclusive tradicionais”, defende.

Ela conta que a fase mais crítica da pandemia fez com que muitas pessoas desenvolvessem problemas psíquicos e comportamentais nos quais a homeopatia pode ajudar. “Estou atendendo crianças com problemas de desenvolvimento devido ao isolamento prolongado. Assim como adultos que desenvolveram TOCs (transtornos obsessivos compulsivos)”.

 

Práticas corporais e meditativas no SUS

Além de acupuntura, auriculoterapia e homeopatia, outras atividades são oferecidas no Bosque da Saúde, como xiang gong (série de exercícios de origem budista), tai chi qi gong (um tipo de harmonização corporal) e tai chi pai lin (de origem taoísta, envolve medicina tradicional chinesa e meditação), yoga, dança circular, meditação e terapia comunitária integrativa.

As atividades coletivas podem ser acessadas por qualquer pessoa interessada que procurar a CRPics Bosque da Saúde e queira participar. Os frequentadores formam turmas para essas práticas corporais e meditativas em grupo, que recebem monitoria dos profissionais da unidade.

Lalis Reis Auricchio, enfermeira e naturóloga que gerencia a unidade, diz que considera fundamental nos tratamentos de saúde a integração de corpo, mente e relações com o ambiente. “Ao receber um paciente para acupuntura ou homeopatia, os profissionais da unidade avaliam como ele vive, entre outros aspectos e, então, são indicadas as melhores práticas corporais, caso haja interesse. Ou seja, o atendimento é personalizado e ajuda a direcionar o paciente, mas os grupos também aceitam procura espontânea”, afirma.

 

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