Rio Grande do Sul: o que fazer em caso de contato com a água suja?

“É importante estar atento a possíveis sintomas de doenças transmitidas pelas águas contaminadas”, alerta médico pneumologista

13 de maio de 2024 - às 09h45 (atualizado em 13/5/2024, às 09h45)

Criança no meio da água suja de enchente
Crédito:

Envato

Escrito por

Dayana Bonetto

Redatora Let's Move 360

A inundação que está ocorrendo no Rio Grande do Sul, especialmente na cidade de Porto Alegre, já ultrapassou os registros da grande enchente de 1941. Naquela época, a capital também foi afetada pelas cheias do lago Guaíba, e o nível da água chegou a 4,76 metros, cerca de 59 centímetros abaixo do que estamos vivenciando agora. Levou 32 dias para que o nível da água retornasse ao limite seguro de 3 metros. Atualmente, ainda não há previsão de quando a situação voltará ao normal. O Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) acredita que será um período de recuperação mais longo do que o ocorrido há 83 anos. Segundo a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, 87,9% das cidades gaúchas já foram afetadas pelas chuvas, o que está causando centenas de mortes, feridos, desaparecidos e desabrigados. 

Em casos como este, é quase inevitável que pessoas em áreas atingidas não entrem em contato com água contaminada, que pode conter bactérias e outros perigos para a saúde. Diante disso, surge a dúvida: já que é difícil evitar, o que fazer para se proteger após estar exposto à água poluída? 

Rodrigo Athanazio, médico pneumologista e Chief Medical Officer (CMO) da Melvi Saúde, compartilha algumas orientações para minimizar riscos à saúde e evitar contaminação.  “Seja devido à invasão das águas, à limpeza do local ou ao resgate de pessoas, é recomendado o uso de luvas e botas de borracha para proteção. Caso esses equipamentos não estejam disponíveis, dois sacos plásticos podem ser usados como alternativa. Após qualquer contato com a enchente, é importante lavar as mãos e os pés com água limpa e sabão imediatamente para evitar a propagação de doenças. Também é aconselhável evitar tocar os olhos ou outras partes do corpo com os dedos, que podem conter resíduos, devido ao alto risco de transmissão de doenças”, orienta.

Alerta de saúde em enchentes

Com pessoas se deslocando de vários estados para ajudar na linha de frente e outras retornando do local, Athanazio ressalta que é importante estar atento a possíveis sintomas de doenças transmitidas pelas águas contaminadas. Ele explica as mais comuns e precauções:

  • Leptospirose: doença bacteriana presente na urina de ratos e outros animais. É transmitida quando a água contaminada entra em contato com a pele, principalmente se houver algum ferimento exposto, mas também pelos olhos, nariz ou boca. Se apresentar febre, dor de cabeça, urina escura e dores no corpo, sobretudo nas panturrilhas, alguns dias após o contato com a água ou lama contaminada, procure o serviço de saúde mais próximo imediatamente e informe aos profissionais a experiência na enchente;
  • Hepatite A: é um vírus transmitido pela ingestão de água ou alimentos contaminados. Entre os sintomas mais comuns estão mal-estar, vômitos, febre, náuseas e pele e olhos amarelados. A pessoa pode apresentar os sintomas entre 15 e 45 dias após a exposição ao vírus. A vacina está disponível no SUS para alguns grupos prioritários ou pode ser tomada em clínicas de imunização de forma particular;
  • Tétano: é uma infecção causada pela toxina de uma bactéria e pode ser encontrada em diversos ambientes. A contração acontece através de ferimentos ou lesões de pele, como cortes ou queimaduras. Os sintomas surgem, em média, entre três e 21 dias e são febre, dificuldade de engolir e contrações musculares. Importante ressaltar que o tétano também pode ser prevenido através da vacinação que está disponível para todos indivíduos no SUS;
  • Animais peçonhentos: durante as enchentes, animais como cobras, aranhas e escorpiões buscam locais secos para se alojarem. Em caso de picada, não amarre, corte ou chupe o local da ferida. Apenas lave com água e sabão e procure o serviço de saúde imediatamente;
  • Diarreia bacteriana e viral: a contaminação da água por bactérias como Escherichia coli e vírus como o rotavírus pode causar diarreia grave e desidratação;
  • Febre tifoide: causada pela bactéria Salmonella typhi, pode ser transmitida através da ingestão de água contaminada por fezes humanas;
  • Cólera: doença bacteriana transmitida pela água contaminada, causada pela bactéria Vibrio cholerae, que pode levar a uma diarreia grave e rápida desidratação;
  • Hepatite E: semelhante à hepatite A, é transmitida principalmente pela ingestão de água contaminada com fezes humanas, e pode causar inflamação do fígado;
  • Doenças parasitárias: parasitas como Giardia lamblia e Cryptosporidium parvum podem contaminar a água e causar sintomas gastrointestinais;
  • Dengue, Zika e Chikungunya: embora transmitidas principalmente por mosquitos, as águas paradas das enchentes podem servir como criadouro para os mosquitos vetores dessas doenças, aumentando o risco de transmissão.

Cuidados pós-enchentes com água e alimentação

Após enchentes, é essencial cuidar da segurança da água e da alimentação para prevenir problemas de saúde. Seguindo orientações simples, você pode proteger sua saúde e evitar complicações:

  • Tratamento da água: antes de beber, é importante filtrar e ferver a água. Se não for possível ferver, trate com hipoclorito de sódio. Para cada litro de água, adicione duas gotas de hipoclorito e deixe descansar por 30 minutos para eliminar bactérias. Certifique-se de higienizar o recipiente onde armazenará a água, evitando o uso de água sanitária com alvejante ou perfume;
  • Precauções com alimentos: ao consumir alimentos, certifique-se de fervê-los bem. Evite comer qualquer alimento com cheiro ou aparência estranha, ou que tenha ficado fora da geladeira por mais de duas horas. Além disso, não consuma alimentos com embalagem estufada, amassada, danificada, enferrujada ou aberta.

Recomendações do Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde disponibiliza a cartilha “Saiba como agir em casos de enchentes”, elaborada pela Secretaria de Vigilância em Saúde. O conteúdo é uma fonte confiável de informações que abrange desde cuidados básicos com água e alimentos até orientações sobre medidas de segurança e prevenção de doenças durante e após inundações. 

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