Por que alguns antibióticos estão cada vez menos eficazes

Saiba como a resistência bacteriana se intensifica com o uso inadequado de antibióticos, segundo a OMS

9 de maio de 2024 - às 11h18 (atualizado em 9/5/2024, às 11h23)

Pessoa segurando vários antibióticos
Crédito:

Envato

Escrito por

Dayana Bonetto

Redatora Let's Move 360

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso inadequado de antibióticos tem provocado alterações nas bactérias, resultando em resistência aos medicamentos. Segundo o médico e infectologista Marcos Boulos, doenças como pneumonia, tuberculose e gonorreia estão se tornando cada vez mais desafiadoras, por vezes, até impossíveis de tratar. A OMS estima que anualmente, pelo menos 700 mil pessoas perdem a vida devido a doenças resistentes a antimicrobianos, e alerta que esse número pode atingir 10 milhões por ano até 2050, se o quadro atual persistir. De acordo com a OMS, a resistência bacteriana é hoje uma das principais ameaças à saúde pública global, afetando especialmente infecções anteriormente tratáveis.

OMS revelou índices elevados de resistência, ultrapassando 50% em bactérias hospitalares que podem causar infecções graves, como Klebsiella pneumoniae e Acinetobacter spp. A primeira pode causar pneumonia e infecções do trato urinário, enquanto a segunda é conhecida por infectar pacientes com sistemas imunológicos comprometidos. 

A OMS também avisou que as bactérias comuns estão ficando mais resistentes aos remédios. Mais de 60% das bactérias que causam gonorreia, doença transmitida pelo sexo, não respondem bem a um antibiótico muito usado chamado ciprofloxacina. E mais de 20% das bactérias que causam infecção urinária, conhecidas como Escherichia coli, estão resistindo aos remédios que costumam ser usados.

O médico e infectologista destaca que muitas vezes o problema pode ser evitado. Ele ressalta que estudos indicam que metade das receitas médicas de antibióticos são inúteis ou simplesmente inadequadas. “80% dos casos é possível saber se o paciente tem uma infecção viral ou bacteriana”.

Antibióticos em excesso, resistência em alta

Segundo o infectologista, quanto mais antibióticos são utilizados, maior se torna o desenvolvimento do mecanismo de resistência. 

Diversos estudos apontam explicações para esse fenômeno. A primeira possibilidade é que a bactéria destrua o antibiótico por meio de uma secreção específica. A segunda reside nas membranas de algumas bactérias, que impedem a penetração de certos antibióticos. Já a terceira hipótese sugere que, para agir, o antibiótico necessita de um “alvo” na célula, o qual algumas bactérias conseguem modificar, inviabilizando a ação da molécula.

Esses dados revelam que à medida que o uso de antibióticos aumenta, há uma redução do efeito terapêutico, resultando em remédios que perdem sua eficácia. Isso ocorre porque algumas bactérias conseguem sobreviver ou continuar se reproduzindo após o uso do antibiótico, seja por mutações ou pela aquisição de um gene específico capaz de neutralizar a molécula. Esse gene pode ser transmitido para outros micro-organismos semelhantes e até mesmo para outras espécies.

Principais tipos de antibióticos: bactericidas e bacteriostáticos

De acordo com Boulos, os antibióticos podem ser divididos em dois grupos: bactericidas, que matam as bactérias e bacteriostáticos, que inibem a reprodução bacteriana sem necessariamente exterminá-las. Ele explica que em alguns casos, devido à toxicidade, a preferência recai sobre os antibióticos bacteriostáticos em vez dos bactericidas. O médico infectologista Boulos destaca também que a classificação dos antibióticos inclui categorias como β-lactâmicos, tetraciclinas, peptídicos cíclicos, aminoglicosídeos, estreptograminas e macrolídeos, sendo que os de origem sintética se dividem em sulfonamidas, fluoroquinolonas e oxazolidinonas. 

Classificação dos antibióticos por categorias

  • β-lactâmicos: são antibióticos que têm uma estrutura específica chamada β-lactâmica. Exemplos incluem a penicilina;
  • Tetraciclinas: antibióticos eficazes contra um amplo espectro de bactérias. Tetraciclina é um exemplo;
  • Peptídicos cíclicos: antibióticos formados por cadeias de aminoácidos organizadas em um ciclo. Exemplo é a vancomicina;
  • Aminoglicosídeos: antibióticos compostos por açúcares e aminoácidos. Streptomicina é um exemplo;
  • Estreptograminas: antibióticos geralmente usados em combinação. Incluem quinupristina e dalfopristina;
  • Macrolídeos: antibióticos que interferem na síntese de proteínas bacterianas. Eritromicina é um exemplo;

Antibióticos de origem sintética se dividem em:

  • Sulfonamidas: inibem a síntese de ácido fólico nas bactérias, afetando seu crescimento;
  • Fluoroquinolonas: interferem no DNA bacteriano, impedindo sua replicação. Ciprofloxacino é um exemplo;
  • Oxazolidinonas: atuam na síntese de proteínas bacterianas, impedindo seu crescimento. Linezolida é um exemplo.

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