Parto humanizado valoriza a fisiologia natural e a autonomia da mulher

Conheça o papel das doulas no processo de parto humanizado, oferecendo apoio integral e promovendo uma experiência positiva para a gestante

17 de julho de 2023 - às 17h36 (atualizado em 28/11/2023, às 17h29)

Jovem segura seu bebê após o parto ladeada por duas médicas ou enfermeiras
Crédito:

Envato

Escrito por

Dayana Bonetto

Redatora Let's Move 360

Segundo a Organização Mundial da Saúde, o parto humanizado é uma abordagem que valoriza o respeito e a autonomia da mulher durante o processo de parto. Essa prática se baseia no reconhecimento da fisiologia natural do parto, ou seja, respeita as etapas e os ritmos naturais do nascimento. A mulher é colocada como protagonista de sua própria experiência. O objetivo é proporcionar um ambiente acolhedor e seguro, onde a mulher possa expressar suas preferências e tomar decisões em relação ao nascimento de seu filho.

No parto humanizado, ao contrário do modelo tradicional, que é mais dominado pela equipe médica, é valorizada a participação do pai ou de outro acompanhante durante o trabalho de parto. A relevância desse envolvimento e o respeito à escolha da mulher foram destacados no guia Assistência ao parto e nascimento: uma agenda para o século 21, elaborado pela UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância).

Juliana Schablatura Vera, obstetra com foco em assistência humanizada ao parto e nascimento, da equipe da clínica Parto com Amor, destaca três pilares fundamentais para que um parto seja considerado humanizado. “O primeiro pilar é o protagonismo da gestante, no qual seus desejos são respeitados e discutidos, permitindo que ela viva o momento de forma segura e confiante. O segundo é a assistência embasada nas recentes evidências científicas, visando a saúde física e emocional tanto da mãe quanto do bebê. Já o terceiro pilar é a transdisciplinaridade, que envolve a presença de outros profissionais, como enfermeiras obstetras/obstetrizes, doulas e fisioterapeutas, reconhecendo a contribuição de cada um para proporcionar uma experiência de parto segura e positiva”. 

A obstetra completa: “o ponto principal do parto humanizado é ser seguro para mãe e bebê, pois com menos intervenções desnecessárias, os riscos de sangramento, infecções, cesarianas sem indicação precisa e sofrimento fetal são menores. Além disso, os hormônios liberados durante o trabalho de parto, a passagem do bebê pela flora bacteriana vaginal da mãe, o contato pele a pele com o bebê logo após o nascimento e a experiência positiva do parto contribuem para o aumento das taxas de amamentação, fortalecimento do vínculo e saúde do bebê”, esclarece.

Agatha Munari, enfermeira obstetra, afirma que quando se tem um ambiente tranquilo e seguro, ocorre a diminuição do estresse tanto para a mãe quanto para o bebê, o que promove um maior vínculo afetivo. “Muitas vezes, quem auxilia no nascimento é o acompanhante, entregando o bebê diretamente para a mãe. Quando tudo está bem, o bebê permanece em contato pele a pele por no mínimo 1 hora, sem intervenções desnecessárias, estimulando o aleitamento materno e o clampeamento do cordão umbilical, que só é feito após parar de pulsar. Já para a mãe, além de todo o empoderamento, diminuem-se os riscos de lacerações do canal de parto, risco de hemorragia pós-parto e melhora-se a recuperação”, pontua a enfermeira. 

No contexto do parto humanizado, no qual o respeito à fisiologia natural e à autonomia da mulher são os pilares fundamentais, é essencial destacar a importância de evitar práticas não recomendadas que possam comprometer o procedimento. Munari ressalta que não é recomendado, por exemplo, o jejum. “A mulher precisa de energia para todo o processo do parto. O jejum só é recomendado para a realização de parto cesárea agendado”, explica. 

Ela também destaca que a mulher deve se sentir livre para escolher a posição que deseja. “Também não é recomendada a restrição de movimentos, pois a gestante deve ter a liberdade de circular e se movimentar da forma mais adequada para ela”, acrescenta. Além disso, a enfermeira obstetra ressalta que as condutas impostas não devem existir, e que tudo deve ser conversado, orientado, discutido e decidido entre a gestante, o acompanhante e a equipe.

 

O papel essencial das doulas no processo de gravidez, parto e pós-parto

No contexto do parto humanizado, há uma figura de extrema importância: as doulas.

O termo doula tem origem na Grécia Antiga, derivado da palavra grega doule, que significa mulher que serve. Na cultura grega, as doulas eram mulheres experientes que ofereciam suporte físico, emocional e prático às mulheres durante o parto e o pós-parto. O conceito moderno de doula foi introduzido em 1970 pela antropóloga americana Dana Raphael, e desde então, o termo tem sido utilizado para descrever profissionais que oferecem apoio contínuo e não-médico às mulheres durante o processo de parto e pós-parto.

Doula há dez anos, Júlia Weiss, que também é psicóloga perinatal e mestre em psicologia aplicada, explica que as doulas desempenham papel essencial no processo da gravidez, parto e pós-parto. “Desde o início da gestação, as doulas fornecem informações seguras e confiáveis para a mulher e sua família, auxiliando todos a entender suas opções e tomarem decisões conscientes sobre o parto. Durante a gravidez, as doulas atuam como guias, indicando as melhores equipes e serviços de assistência ao parto, levando em consideração a realidade local”, explica. No momento do parto, segundo Weiss, a doula apoia, acompanha, oferece conforto físico e emocional para a mulher e busca alternativas de alívio para a dor, que não envolvam medicamentos. Além disso, ela também oferece apoio para o acompanhante, incentivando sua participação ativa no processo de nascimento.

Para Schablatura Vera, a função da doula como suporte emocional contínuo faz muita diferença na experiência do parto. “Muitas vezes, a vulnerabilidade que a gestante se encontra nesse momento de dor e medo, pode ser o motivo de traumas e até mesmo depressão pós-parto. O acompanhante é muito importante, mas muitas vezes ele também está vulnerável e passando por aquilo pela primeira vez. Por isso a doula é tão importante, trazendo tranquilidade para a família, conhecimento sobre o processo, alívio não farmacológico da dor e trazendo a gestante para o seu foco principal”, ressalta a obstetra.

O parto humanizado e a presença das doulas representam uma abordagem que prioriza o respeito, a informação e o apoio integral às mulheres nesse momento tão especial de suas vidas. Segundo Zamperlin, fisioterapeuta pélvica e doula, mulheres que contam com a assistência de uma doula têm redução no tempo do trabalho de parto, menos pedidos de analgesia, menores índices de cesárea, maior sucesso na amamentação e redução do risco de depressão pós-parto.

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