Fígado e coração: aliados na saúde do corpo
A harmonia entre fígado e coração é crucial para o bom funcionamento do organismo
17 de novembro de 2023 - às 10h50 (atualizado em 16/11/2023, às 19h06)
Envato
Escrito por
Dayana Bonetto
Redatora Let's Move 360
No corpo, fígado e coração são como uma dupla, sempre em sintonia para garantir o funcionamento do corpo. Se um não está bem, o outro sente o impacto. Cláudio Catharina, gestor de cardiologia da Unidade Coronariana do Hospital Icaraí, em Niterói, explica: “O coração desempenha o papel fundamental de bombear o sangue por todo o corpo, enquanto o fígado assume a importante tarefa de filtrar esse sangue. O fígado realiza uma limpeza minuciosa, separando os componentes benéficos dos que precisam ser eliminados, processando cerca de um litro e meio de sangue por minuto. Esse sangue provém principalmente da veia porta, que coleta sangue venoso de órgãos envolvidos na digestão, e da artéria hepática, responsável por transportar sangue rico em oxigênio do coração”, esclarece.
O gestor de cardiologia ressalta que o fígado é importante na produção de bílis, um líquido essencial para dissolver gorduras nos vasos sanguíneos. “Ao gerar até duas xícaras de bílis por dia, o fígado mantém a flexibilidade e a desobstrução das artérias, garantindo uma circulação sanguínea eficiente por todo o corpo. Assim, qualquer alteração em um desses órgãos pode impactar diretamente o funcionamento do outro, destacando a interdependência vital entre o coração e o fígado no complexo sistema biológico humano”.
Além disso, Cláudio Catharina destaca a insuficiência cardíaca, em que a falência do coração provoca congestão hepática, levando a uma disfunção do fígado e podendo evoluir para outro problema, a cirrose. “A congestão hepática é o acúmulo de sangue no fígado, resultante da dificuldade do coração em bombear o sangue de maneira eficaz por esse órgão. Essa sobrecarga pode levar a uma disfunção do fígado, em que ele não executa suas funções normais. Essa disfunção prolongada pode culminar na cirrose, uma condição caracterizada pela substituição do tecido hepático saudável por cicatrizes, alterando irreversivelmente a estrutura normal do fígado”, explica.
Outro problema que Catharina cita é a cardiomiopatia cirrótica, uma doença que se inicia no fígado e pode comprometer secundariamente o coração, levando a uma disfunção cardíaca. “A cardiomiopatia cirrótica é uma condição na qual as alterações decorrentes da cirrose hepática afetam o funcionamento do coração. A cirrose pode influenciar a circulação sanguínea no corpo. Essa relação entre a cirrose e o coração está ligada às mudanças no sistema vascular e aos desequilíbrios metabólicos. Em termos simples, a condição hepática prejudica indiretamente o coração, comprometendo sua capacidade de bombear sangue de maneira eficaz, o que pode levar a complicações cardíacas”, enfatiza.
E por fim, Catharina destaca a existência da doença metabólica, presente no cotidiano. “Ela está associada à obesidade abdominal, distúrbios da glicose e colesterol, e frequentemente à hipertensão arterial, resultando na infiltração gordurosa no fígado e ao redor do coração. Esse quadro promove um processo inflamatório lento e sistêmico, culminando em aterosclerose, arritmia cardíaca e infarto do miocárdio. A doença hepática metabólica (esteatose hepática não alcoólica) evolui para hepatite e câncer no fígado, sendo atualmente a principal causa de transplante hepático nos Estados Unidos”, alerta.
Fatores de risco relacionados ao coração e fígado
- Disfunção metabólica e hepática: diabetes, hiperlipidemia e obesidade são fatores de risco compartilhados entre o coração e o fígado, contribuindo para doenças hepáticas como a esteatose hepática não alcoólica;
- Desenvolvimento de aterosclerose: o acúmulo de gordura no fígado pode levar ao desenvolvimento da aterosclerose, aumentando o risco de doenças cardiovasculares, incluindo infarto do miocárdio;
- Hepatite e doenças inflamatórias: processos inflamatórios hepáticos, como hepatites, podem desencadear respostas inflamatórias sistêmicas, afetando negativamente o sistema cardiovascular;
- Alterações na hemodinâmica vascular: distúrbios no fígado, como fibrose e cirrose, podem prejudicar a circulação sanguínea, impactando diretamente o coração e aumentando o risco de insuficiência cardíaca;
- Consumo excessivo de álcool e substâncias: o abuso de álcool e outras substâncias pode levar a doenças hepáticas e cardíacas, estabelecendo uma conexão direta entre os dois órgãos;
- Má gestão do peso e estilo de vida: a obesidade abdominal e hábitos de vida sedentários contribuem para o acúmulo de gordura no fígado, afetando tanto a saúde hepática quanto a cardiovascular;
- Doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA): a DHGNA, associada a hábitos alimentares inadequados, pode desencadear problemas cardíacos devido ao comprometimento funcional do fígado;
- Síntese biliar e colesterol: alterações na síntese biliar e metabolismo lipídico, provocadas por disfunções hepáticas, podem influenciar os níveis de colesterol, contribuindo para doenças cardiovasculares;
- Complicações cardiovasculares silenciosas: anormalidades cardiovasculares em estágios iniciais de doenças hepáticas são frequentemente silenciosas, sendo ignoradas até que manifestem complicações graves.
Prevenção contra doenças cardíacas e hepáticas
- Estilo de vida saudável: adotar hábitos saudáveis, como uma dieta equilibrada, prática regular de exercícios e controle do peso, contribui para a prevenção de doenças hepáticas e cardiovasculares;
- Monitoramento da pressão arterial: manter a pressão arterial dentro dos níveis saudáveis é crucial para a prevenção de complicações;
- Controle do diabetes: gerenciar adequadamente o diabetes é essencial, pois essa condição está associada a riscos aumentados tanto para o coração quanto para o fígado;
- Álcool e substâncias: evitar o consumo excessivo de álcool e substâncias tóxicas ajuda a prevenir danos ao fígado e reduz o risco de problemas cardiovasculares;
- Não fumar: o tabagismo é um fator de risco conhecido para doenças cardiovasculares e pode agravar condições hepáticas;
- Controle do colesterol: monitorar os níveis de colesterol e adotar medidas para mantê-los equilibrados;
- Vacinação contra hepatites: a vacinação contra hepatites, quando disponível, é uma medida preventiva eficaz para proteger o fígado contra infecções virais;
- Gestão do estresse: práticas para controlar o estresse, como meditação e exercícios relaxantes, são benéficas para a saúde cardíaca e hepática;
- Acompanhamento médico regular: realizar check-ups médicos periódicos é importante para identificar precocemente possíveis problemas tanto no coração quanto no fígado;
- Educação sobre saúde: promover a conscientização sobre a interconexão entre coração e fígado, incentivando a adoção de medidas preventivas, é essencial para uma abordagem holística da saúde.
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