Esquizofrenia: entenda os sintomas, causas e tratamento

Saiba como é diagnosticada a esquizofrenia, um transtorno mental que afeta milhões de pessoas no mundo

31 de agosto de 2023 - às 13h27 (atualizado em 28/11/2023, às 17h04)

Rosto de homem jovem nítido no centro e embaçado dos lados
Crédito:

Envato

Escrito por

Dayana Bonetto

Redatora Let's Move 360

Quando se fala em esquizofrenia, muita gente pensa em pacientes violentos ou com tendência a surtos de agressividade. Há sim alguns com essas características, mas com tratamentos adequados e acompanhamento clínico, é possível levar uma vida quase normal. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a esquizofrenia atinge aproximadamente 21 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, são 2 milhões de pacientes. É a terceira causa de perda da qualidade de vida entre os 15 e 44 anos, segundo a OMS.

 

O termo significa cisão das funções mentais, do grego schizo = divisão, cisão; phrenos = mente.  A esquizofrenia não possui definição em sua natureza essencial. Portanto, às vezes é referida como síndrome, um grupo de esquizofrenias ou, segundo a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), um espectro. Como esse próprio termo indica, caracteriza-se por desorganização ampla dos processos mentais. Causa distorções na sensopercepção, no pensamento, afeta a vida social, laboral, afetiva e familiar, ocasionando perda de funcionalidade e autonomia. Atualmente, não é classificada como doença, mas sim, como um transtorno mental. 

 

Ocorre, em geral, na adolescência ou início da idade adulta, com um pico de prevalência aos 40 anos, declinando entre os mais idosos. Geralmente, o transtorno é diagnosticado quando alguns sintomas aparecem. A psicóloga Cristina Navalon explica que a esquizofrenia pode começar com um sintoma persecutório, ou seja, através de um olhar negativo de perseguição, achar que tudo conspira contra si. “A pessoa começa a viver algo que está fora da realidade, que não está acontecendo”, pontua.

 

Segundo Navalon, a esquizofrenia é altamente hereditária e envolve componentes genéticos (herança) e neurobiológicos heterogêneos (afeta o cérebro de maneira variada e única em diferentes pessoas), e inclui sintomas positivos, negativos, cognitivos e de humor. “Os sintomas positivos, também conhecidos como produtivos, são psicóticos, como alucinações, delírios e discursos desorganizados. Os sintomas negativos incluem dificuldades em expressar emoções e sentimentos, pobreza de discurso e perda de interesse pelo ambiente. Os sintomas cognitivos consistem em déficits na memória, incluindo coisas relacionadas ao trabalho, atenção em funções executivas, planejamento e organização mental. Os sintomas de humor, por sua vez, podem demonstrar feição depressiva, apática, alegre ou triste”, esclarece.

 

A evolução do quadro, na maioria das vezes, ocorre em surtos agudos intercalados por períodos de estabilização. 

 

Tratamento multidisciplinar

 

Navalon destaca que o tratamento para esquizofrenia deve ser multidisciplinar, envolvendo vários profissionais, como médicos, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e enfermeiros. Além disso, ela explica que é dividido em farmacológico e psicossocial. “Temos diversas opções de tratamento, como medicamentos antipsicóticos, que auxiliam na prevenção e diminuição de alucinações e delírios; a terapia, que ajuda o indivíduo a lidar com os desafios da vida; reabilitação social, que busca reinserir o paciente na sociedade; tratamento hospitalar, ideal para casos em que o esquizofrênico se coloca em situações de risco; e o mais importante de todos, o apoio comunitário e familiar, que oferece um ambiente saudável e seguro”, pontua.

 

Fatores de risco para a Esquizofrenia

 

Existem gatilhos para o aparecimento da esquizofrenia no comportamento do indivíduo. Os fatores envolvidos em seu desenvolvimento podem ser diferenciados entre genéticos e ambientais, ou mesmo entre modificáveis e não modificáveis.

 

Cientistas da Universidade de Copenhague realizaram uma análise sobre a ocorrência do transtorno em gêmeos monozigóticos (idênticos) e dizigóticos (não idênticos). Além disso, examinaram outros estudos envolvendo familiares. Os resultados indicaram que o transtorno tinha uma alta carga genética, com uma estimativa de herdabilidade em torno de 80%, ou seja, a cada 5 casos de esquizofrenia, 4 tinham causa na herança genética. Foram analisadas informações coletadas de mais de 30 mil pares de gêmeos, entre 1951 e 2000.

 

De acordo com os cientistas da Dinamarca,  a pesquisa evidenciou que os monozigóticos herdam as mesmas características genéticas de seus pais. Quando comparados aos dizigóticos, pode-se ter forte indicação de que o problema foi causado por genes ou algo no ambiente em que eles se desenvolveram.

 

Já os fatores ambientais, que envolvem complicações na vida fetal e no nascimento estão associados ao risco de desenvolver esquizofrenia. Presume-se que em fases iniciais da vida tenham um efeito na conectividade neural do cérebro em desenvolvimento.

 

Além desses, Navalon ressalta que é possível citar outros aspectos que também podem aumentar as causas de esquizofrenia: idade paterna avançada (APA), ambiente urbano, migração, abuso de cannabis e adversidades sociais.

 

De acordo com o estudo Idade paterna avançada e risco de esquizofrenia na prole – revisão dos achados epidemiológicos e mecanismos potenciais, que analisou 19 pesquisas originais até 2020 sobre o assunto, a APA é um fator de risco para a esquizofrenia na prole. Os autores do levantamento estimaram que os filhos de pais com 55 anos ou mais têm um risco 122% maior de desenvolver esquizofrenia do que os filhos de pais com 25 a 29 anos. No entanto, deixam claro que mais pesquisas serão necessárias para entender os mecanismos que contribuem para essa associação.

 

Com relação ao fator ambiental, é mais do que provado que a vida nas grandes cidades é estressante. Barulho, trânsito, lixo, pessoas apressadas e se empurrando por todos os lados. Cenas comuns do cotidiano. Mas o que traz as pessoas para essa realidade? perspectivas de um emprego melhor, um salário mais alto ou até mesmo um estilo diferente de vida. Segundo o Relatório Mundial das Cidades 2022, publicado pelo ONU-Habitat, a população mundial será 68% urbana até 2050.

 

Conforme os resultados encontrados em Fatores socioeconômicos e esquizofrenia nas regiões brasileiras, a região com maiores números de pacientes diagnosticados esquizofrênicos foi a Sudeste, que, segundo o IBGE, possui a maior área urbana do país, apresentando o maior grau de industrialização e elevado índice de desigualdade social.

 

Nesse grupo de fatores de risco estão também aqueles que decidiram viver em um país com estrutura social diferente da que sua família está acostumada ou do lugar onde nasceu. 

O fluxo de refugiados e imigrantes não para de crescer. Em 2022, o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) reconheceu 5.795 pessoas como refugiadas. Os homens corresponderam a 56% deste total e as mulheres, a 44%. Além disso, 46,8% das pessoas reconhecidas como refugiadas eram crianças, adolescentes e jovens com até 24 anos de idade. 

 

Pessoas que fogem de guerras, migram para países diferentes com suas famílias, enfrentam desafios culturais e riscos de exclusão social em busca de uma vida melhor, têm maior risco de esquizofrenia, segundo o Instituto Central de Saúde Médica da Alemanha. Isso aumenta o risco em 270% na primeira geração (pais ou membros iniciais da família) e em surpreendentes 300% na segunda geração (filhos ou descendentes da primeira geração).

 

Sobre os  hábitos de consumo de cannabis, uma pesquisa na Dinamarca com mais de 7 milhões de pessoas constatou que o uso frequente de cannabis pode aumentar o risco de esquizofrenia em até quatro vezes. Durante o período de 1995 a 2010, quando o uso pesado de maconha aumentou, a taxa de esquizofrenia na população subiu de 2% para 6% a 8%. 

 

Há também fatores relacionados a acontecimentos da vida. Adversidades na infância, incluindo abusos físicos, sexuais, maus-tratos, bullying ou em outros momentos, morte de alguém querido, perda do emprego e fim de um relacionamento.

 

Diagnóstico de Esquizofrenia é clínico

 

A esquizofrenia constitui uma condição médica primária ou idiopática; isto é, embora se conheçam diversos fatores etiológicos relacionados a ela, como por exemplo, os genéticos e bioquímicos, a sua verdadeira causa é desconhecida. Em outras palavras, não se consegue identificar uma doença sistêmica ou cerebral ou uma substância exógena que por si só possa explicar o surgimento dos sintomas. Assim, o diagnóstico de esquizofrenia é eminentemente clínico, não podendo ser formulado ou confirmado por meio de exames laboratoriais. 

 

Nesse sentido, a história patológica pregressa, o exame físico e eventuais exames complementares são importantes para descartar outras possíveis causas dos sintomas psicóticos. Além disso, para que possa ser formulado o diagnóstico de esquizofrenia, devem ser afastadas as hipóteses de transtorno depressivo, transtorno bipolar, transtorno esquizoafetivo, transtorno mental relacionado a substância e doença não psiquiátrica.

 

Tipos de esquizofrenia

 

O DSM-5 apontou 5 tipos de esquizofrenia. São elas: paranoide, catatônica, hebefrênica ou desorganizada, indiferenciada e residual. 

 

  • Esquizofrenia paranoide – é o tipo mais comum, em que predominam os delírios e alucinações, principalmente o ouvir vozes, sendo também comum alterações do comportamento, como agitação, inquietação;

 

  • Esquizofrenia catatônica – caracterizada pela presença do catatonismo, em que a pessoa não reage de forma correta ao ambiente, havendo movimentos lentos ou paralisia do corpo, em que se pode permanecer na mesma posição por horas a dias, fala lentificada ou não falar, repetição de palavras ou frases que alguém acabou de dizer, como também a repetição de movimentos bizarros, realização de caretas ou olhar fixo. É um tipo menos comum de esquizofrenia, e de tratamento mais difícil, havendo risco de complicações como desnutrição ou auto-agressão, por exemplo;

 

  • Esquizofrenia hebefrênica ou desorganizada – predomina o pensamento desorganizado, com falas sem sentido e fora do contexto, além de ser comum a presença de sintomas negativos, como desinteresse, isolamento social e perda da capacidade de realizar atividades do dia-a-dia;

 

  • Esquizofrenia indiferenciada – surge quando há sintomas de esquizofrenia, no entanto estes não se encaixam nos outros tipos e, por isso, a pessoa não se encaixa nos tipos de esquizofrenia citados;

 

  • Esquizofrenia residual – é uma forma crônica do transtorno. Acontece quando os critérios para esquizofrenia ocorreram no passado, mas não estão ativos atualmente, entretanto, ainda persistem sintomas negativos como lentificação, isolamento social, falta de iniciativa ou afeição, expressão facial diminuída ou falta de autocuidado, por exemplo.

 

 

 

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