Doenças autoimunes: compreenda como afetam o corpo

As doenças autoimunes (DAI) representam um conjunto de condições de saúde em que o sistema imunológico do corpo se desregula, perdendo a capacidade de diferenciar o que pertence ao organismo e o que é uma ameaça externa, segundo a médica reumatologista Cláudia G. Schainberg. Ela explica que esse desequilíbrio resulta no ataque às células e aos tecidos saudáveis do próprio corpo, levando à destruição dessas estruturas e causando uma variedade de sintomas e problemas em diferentes órgãos e sistemas. “Em geral, ocorre uma produção excessiva de anticorpos contra as estruturas do organismo, podendo afetar o coração, os rins, os pulmões, o cérebro e as articulações. Portanto, essas doenças podem se manifestar em diversos órgãos e sistemas”, explica. Entre as doenças autoimunes mais comuns, estão a artrite reumatoide, diabetes tipo 1 e a esclerose múltipla. Esses são apenas alguns exemplos de um grupo de mais de 80 doenças autoimunes identificadas, todas caracterizadas por uma resposta imunológica anormal que afeta negativamente a qualidade de vida das pessoas.

 

De acordo com estudo publicado na revista Science Signaling em 2018, as mulheres têm uma tendência maior ao desenvolvimento de doenças autoimunes devido a um receptor de estrógeno encontrado nas células do sistema imunológico. A pesquisa revelou que esse componente amplifica a influência do estrógeno, levando o sistema imunológico a agir contra o próprio organismo. Doenças como artrite reumatoide, lúpus eritematoso e esclerose múltipla afetam as mulheres até nove vezes mais do que os homens. No caso do lúpus, as mulheres representam 90% dos casos. No entanto, os homens podem manifestar formas mais graves da doença.

 

Segundo Schainberg, embora a causa exata destas enfermidades permaneça, em grande parte, desconhecida, alguns fatores estão associados ao seu desenvolvimento. “A genética e o ambiente desempenham um papel relevante. Quando ocorrem casos destas doenças na família, a genética pode aumentar a probabilidade de que outros membros também as desenvolvam. Além disso, elementos como a exposição a substâncias químicas, infecções, estresse e hábitos alimentares podem impactar o surgimento dessas enfermidades”, adverte.

 

Sintomas de doenças autoimunes

 

Schainberg explica que os sintomas das doenças autoimunes podem variar dependendo do órgão-alvo que está sendo atacado. Portanto, ela ressalta que o diagnóstico é principalmente baseado no quadro clínico, nas queixas do paciente e no exame físico, que identificam sinais e sintomas específicos. 

 

Os exames complementares podem confirmar a presença de autoanticorpos, que são proteínas que atacam as estruturas do próprio corpo. Para confirmar a presença da doença e sua gravidade, são realizados exames de sangue para detectar autoanticorpos, exames de imagem para avaliar danos em órgãos e, em alguns casos, biópsias para obter amostras de tecido. Esses exames são cruciais para um diagnóstico preciso e o desenvolvimento de um tratamento apropriado.

 

Sinais de alerta 

 

É importante destacar que esses sintomas não são exclusivos das doenças autoimunes e podem aparecer em muitas outras condições de saúde. No entanto, se ocorrer de forma persistente, é fundamental procurar um médico para avaliação e diagnóstico adequados. 

 

• Cansaço: a fadiga é um sintoma comum em muitas doenças autoimunes. Pessoas afetadas frequentemente relatam sensação persistente de cansaço, mesmo após um bom descanso;

 

• Perda ou aumento de peso repentino: variações significativas de peso sem uma razão óbvia podem ser indicativas de um problema autoimune. Alguns distúrbios autoimunes afetam o metabolismo e o apetite, levando a alterações no peso corporal;

 

• Mal-estar: um sentimento geral de desconforto ou mal-estar pode acompanhar muitas doenças autoimunes. Isso pode incluir febre intermitente, suores noturnos e uma sensação geral de estar doente;

 

• Sensação de fraqueza: fraqueza muscular ou uma sensação de falta de força pode ocorrer em várias doenças autoimunes, afetando a capacidade de uma pessoa realizar suas atividades diárias;

 

• Dores nas articulações: são comuns em muitas doenças autoimunes, como artrite reumatoide e lúpus. Essas dores podem ser localizadas em uma ou várias articulações e podem ser acompanhadas de inchaço;

 

• Anemia: é uma condição em que o corpo não produz células vermelhas do sangue suficientes ou as destrói rapidamente. Isso pode levar a sintomas como fadiga, palidez e falta de ar;

 

• Diarreias e desconfortos abdominais: algumas doenças autoimunes afetam o sistema gastrointestinal, causando sintomas como diarreia crônica, dor abdominal e problemas de digestão;

 

• Manchas pelo corpo: em algumas doenças autoimunes podem surgir manchas ou lesões cutâneas, como erupções cutâneas, úlceras ou manchas vermelhas na pele.

 

Exemplos comuns de doenças autoimunes

 

• Diabetes tipo 1: o sistema imunológico ataca as células produtoras de insulina no pâncreas;

 

• Lúpus eritematoso sistêmico (LES): pode afetar várias partes do corpo, incluindo pele, articulações, rins, coração e pulmões;

 

• Artrite reumatoide: afeta as articulações, causando dor, inflamação e danos articulares;

 

• Doença de Crohn: afeta o sistema gastrointestinal, levando a inflamação intestinal crônica;

 

• Colite ulcerosa: também afeta o sistema gastrointestinal, causando inflamação no cólon;

 

• Esclerose múltipla: afeta o sistema nervoso central, causando danos na mielina, que reveste as fibras nervosas;

 

• Tireoidite de Hashimoto: afeta a glândula tireoide, levando a distúrbios hormonais;

 

• Doença de Graves: também afeta a glândula tireoide, resultando em um excesso de hormônios da tireoide;

 

• Síndrome de Sjögren: afeta glândulas que produzem lágrimas e saliva, causando secura nos olhos e na boca;

 

• Psoríase: afeta a pele, causando o desenvolvimento de placas vermelhas e escamosas.

 

Como tratar doenças autoimunes

 

Schainberg destaca que, embora as doenças autoimunes não tenham uma cura definitiva, o uso de medicamentos para suprimir o sistema imunológico, geralmente melhora a qualidade de vida dos pacientes. “A escolha do tratamento depende do tipo de doença e da sua fase, podendo incluir anti-inflamatórios e corticosteroides. O objetivo principal é reduzir a autoimunidade, muitas vezes com medicamentos imunossupressores”, pontua.

 

 

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