Descubra por que o intestino é chamado de segundo cérebro

Entenda como o intestino desempenha um papel crucial na comunicação entre o cérebro principal e o segundo cérebro, influenciando emoções, sono e saúde mental

28 de setembro de 2023 - às 18h27 (atualizado em 28/11/2023, às 16h57)

Imagem de mulher, na altura dos quadris seguras uma imagem do intestino
Crédito:

Envato

Escrito por

Dayana Bonetto

Redatora Let's Move 360

O intestino vai além das funções convencionais de digestão, absorção e transporte de nutrientes, bem como da produção de enzimas e hormônios reguladores do metabolismo. É considerado o segundo cérebro. O neurologista Gabriel Micheli esclarece que o órgão é reconhecido assim devido à quantidade de neurônios que existem nele. “O intestino abriga a segunda maior população de neurônios do corpo humano, pelo menos meio bilhão, só perdendo para o próprio Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP). E grande parte desses neurônios do intestino é responsável pela própria motilidade intestinal, fazendo parte do que a gente chama de Sistema Nervoso Autônomo (SNA)”, pontua. Ou seja, o intestino funciona sozinho sem precisar do SNC.

 

Micheli explica que a comunicação entre o cérebro principal e o segundo cérebro no intestino pode acontecer de duas formas: “Primeiro, de maneira tradicional, através das sinapses e dos nervos. O principal deles é o nervo vago, que se origina no tronco cerebral e se conecta com o intestino, regulando a maior parte das funções habituais do intestino. No entanto, também existem mediadores hormonais secretados no intestino, que são detectados por esses neurônios e influenciam nosso estado emocional. Isso faz parte do chamado eixo intestino-cérebro, ou gut-brain axis em inglês. Essa é uma via de mão dupla, com mediadores produzidos no intestino afetando o sistema nervoso central e mediadores produzidos pelo sistema nervoso central atuando no intestino”, explica. Segundo ele, isso exerce influência sobre as emoções, o sono, o comportamento e até mesmo transtornos mentais. “É notável como muitas pessoas relatam mudanças no funcionamento do intestino quando estão ansiosas, estressadas ou com medo. Isso ocorre devido a essa conexão intestino-cérebro. Populações específicas de bactérias no intestino podem desempenhar um papel importante em condições como depressão crônica, estresse pós-traumático e distúrbios do sono. Modular a microbiota intestinal com probióticos, prebióticos e uma dieta menos baseada em alimentos ultraprocessados pode ser a chave para aliviar sintomas de ansiedade e depressão, alterando a sinalização dos neurônios intestinais para o sistema nervoso central”, diz.

 

Micheli cita como exemplo dessa conexão a  doença de Parkinson. “A proteína alfa-sinucleína, associada à doença, é encontrada de forma patológica no intestino até 10 anos antes dos sintomas típicos da doença se manifestarem no cérebro. Essa proteína viaja pelo sistema nervoso intestinal, sobe pelo nervo vago e causa doença no cérebro. A constipação é um sintoma comum da doença de Parkinson. Assim, está em estudo a possibilidade de alterar a composição da microbiota intestinal para potencialmente impactar o curso da doença de Parkinson”, esclarece.

 

Importância da alimentação para a saúde do cérebro

 

De acordo com a médica nutróloga Liliane Oppermann, quanto mais variada e colorida for a alimentação, melhor para a saúde do cérebro. “Aqui podemos citar verduras, frutas e proteínas magras, como as carnes magras, laticínios magros e ovos. Essa fonte de proteína é a que fornece também a possibilidade do nosso corpo reconstruir desde a parte muscular até os neurotransmissores”, pontua. Oppermann explica que os hormônios neurotransmissores também precisam de peptídeos, que são proteínas, e também da alimentação. “Nós precisamos da ingestão de ômega 3, mas com a modernidade e a alimentação mais industrializada, o homem tem consumido cada vez menos, apesar de morarmos em um país tropical, onde nem todos têm o costume de consumir peixes”, ressalta.

 

Vale lembrar que o ômega-3 tem como fonte peixes, linhaça e semente de chia, enquanto o ômega-6 está presente basicamente em qualquer alimento animal, alguns óleos vegetais e algumas gorduras vegetais. Segundo Oppermann, ao restabelecer o equilíbrio do ômega 3, o cérebro, a saúde cardiovascular e osteoarticular também melhoram.

 

Giovana Canno, nutricionista, destaca que ter uma alimentação saudável é fundamental para a saúde tanto do primeiro cérebro quanto do segundo cérebro. “O intestino é a base do nosso metabolismo, e toda vez que ele não funciona adequadamente, como, por exemplo, quando não há uma boa absorção de nutrientes, ocorrem deficiências nutricionais que podem acarretar em vários problemas, como disfunções endócrinas, disfunções metabólicas, disfunções no sono e na produção de melatonina, que ocorre principalmente através do intestino e é o hormônio que regula o início do nosso sono”, explica.

 

Segundo Canno, quando não fornecemos nutrientes como zinco, selênio e magnésio de forma adequada na alimentação, muitas vezes a imunidade pode sofrer uma queda. “A pessoa começa a se sentir mais cansada, sem disposição, fica doente com mais frequência e também tem uma má recuperação dos treinos. Isso é muito comum em quem tem a imunidade mais abalada, com quem tem a imunidade que não está sendo produzida, está sendo trabalhada no intestino de forma 100%”, destaca.

 

 

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