Como a menopausa e a hipertensão podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares em mulheres

Uma em cada três mulheres morre de doenças cardíacas

10 de novembro de 2023 - às 11h35 (atualizado em 10/11/2023, às 11h36)

mulher segura coração de plástico em frente ao peito
Crédito:

Envato

Escrito por

Dayana Bonetto

Redatora Let's Move 360

Doenças do coração são a principal causa de morte no mundo e no Brasil, de acordo com o Cardiômetro da Sociedade Brasileira de Cardiologia. O medidor indica que ocorrem cerca de 1.000 mortes por dia no país. Dentre esse grupo, as mulheres têm aparecido como as que enfrentam maior risco. É o que indica o estudo Women’s Ischemia Syndrome Evaluation (WISE). Segundo a pesquisa, uma em cada três mulheres morre de doenças cardíacas. Salete Nacif, cardiologista e integrante do SOCESP Mulher, um grupo de cardiologistas mulheres da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP), explica que doenças cardiovasculares em mulheres têm se tornado cada vez mais comuns antes da terceira idade. “Elas possuem artérias mais finas, oscilação hormonal, gravidez e a própria predisposição genética. Geralmente, as doenças cardiovasculares afetam aquelas acima dos 60, mas, nos últimos anos, temos visto um crescimento significativo na faixa dos 40 anos de idade”, alerta a cardiologista.

 

Nacif ressalta que um dos principais fatores que levam mulheres a terem doenças cardiovasculares é a pressão alta. Ela salienta que existe uma prevalência feminina maior de hipertensão após os 60 anos. “Durante a fase da síndrome do climatério, que ocorre após a menopausa, a mulher passa por uma tempestade hormonal e alterações físicas que afetam suas vidas. A falta do hormônio feminino, por exemplo, causa mecanismos vasomotores, como aqueles fogachos e calorões, e pode contribuir para o aumento da prevalência da hipertensão”, pontua.

 

Além disso, ela destaca outros fatores de risco que afetam as mulheres durante a menopausa. “O excesso de peso e o sedentarismo também podem piorar nessa faixa etária e são contribuintes para o desenvolvimento da hipertensão”.

 

Hipertensão é perigosa para as mulheres após o 60 

 

De acordo com Nacif, a hipertensão é perigosa na fase da síndrome do climatério porque soma fatores de risco para doenças cardiovasculares. “As mulheres na pós-menopausa aumentam seus níveis de colesterol e ganham peso em geral, pois o metabolismo diminui. Além disso, a falta de hormônio feminino, como o estrogênio, também aumenta a predisposição a doenças cardiovasculares. Ao somar todos esses fatores, a mulher enfrenta um momento de alto risco, no qual é necessário cuidar da saúde, buscando avaliação cardiológica regular”.

 

Ela explica que a hipertensão faz o coração bater com mais força e provoca alterações nos vasos sanguíneos, afetando o endotélio. “O endotélio é uma camada interna de células que reveste o interior dos vasos sanguíneos, como artérias, veias e capilares. Sua principal função é atuar como uma barreira entre o sangue circulante e as paredes dos vasos sanguíneos, além de desempenhar um papel fundamental na regulação do fluxo sanguíneo”, esclarece.

 

Nacif alerta que essas mudanças que afetam o endotélio sobrecarregam o coração e os vasos sanguíneos. “É muito perigoso e pode contribuir para o surgimento das duas doenças mais comuns, ou seja, a doença cardiovascular mais prevalente, que é o infarto, e o acidente vascular cerebral, que é o famoso derrame”. 

Menopausa, obesidade e doença coronariana

 

De acordo com pesquisa Posicionamento sobre Doença Isquêmica do Coração – A Mulher no Centro do Cuidado – 2023, a obesidade aumentou o risco de doença coronariana em 64% nas mulheres e em 46% nos homens. As razões para isso incluem as variações hormonais nas mulheres, que podem afetar o metabolismo da gordura e o acúmulo de gordura abdominal, conhecido como obesidade central. Essa forma de obesidade, com excesso de gordura na região abdominal, está fortemente associada a um maior risco de doença coronariana.

 

Além disso, a obesidade está ligada a outros fatores de risco para a doença coronariana, como diabetes, hipertensão e níveis elevados de colesterol. Nacif ressalta que as mulheres, em particular, podem enfrentar uma predisposição genética a essa combinação de fatores de risco. “Acreditamos que existe uma relação muito importante com os hormônios femininos. Percebemos que alguns fatores de risco, como obesidade, tabagismo e diabetes, conferem um risco maior de doença cardíaca nas mulheres em comparação com os homens”.

 

“Descasque mais e desembale menos”

 

Segundo Nacif, quando comparamos homens e mulheres, é possível perceber que elas têm mais sedentarismo do que eles. “As mulheres nessa faixa etária têm um metabolismo mais lento, são mais sedentárias, apresentam alterações hormonais e de colesterol. Portanto, os fatores de risco se combinam e realmente aumentam significativamente o risco nessa fase”. A pesquisa Posicionamento sobre Doença Isquêmica do Coração – A Mulher no Centro do Cuidado – 2023 confirma: Desde os primeiros anos de vida, a mulher tem progressivamente menor participação em atividade física, o que leva a uma cascata de alterações produzidas pela falta de condicionamento físico, com grande relevância clínica no processo de envelhecimento não saudável.

 

Com relação ao colesterol, Nacif enfatiza que, quando não é de origem genética, a influência do colesterol está fortemente relacionada a dois pilares fundamentais: a falta de atividade física e má alimentação. “Esses dois fatores desempenham um papel crucial na regulação dos níveis de colesterol no organismo. A prática regular de atividade física auxilia na redução do colesterol LDL, frequentemente chamado de colesterol ruim, ao mesmo tempo que pode elevar o colesterol HDL, considerado o colesterol bom. A dieta também desempenha um papel igualmente importante. Uma alimentação equilibrada, rica em verduras, frutas, legumes e alimentos naturais e pobre em gorduras saturadas e alimentos ultraprocessados, é essencial para manter níveis saudáveis de colesterol”. A cardiologista completa: “Nós sempre citamos uma frase: ‘descasque mais e desembale menos”.

 

Sono e saúde cardiovascular

 

A privação de sono pode prejudicar a regulação do sistema nervoso autônomo, afetando negativamente o ritmo cardíaco e a variabilidade cardíaca, fatores cruciais para a saúde do coração. Neste sentido, Nacif destaca que um sono de qualidade pode ser importante para a prevenção de doenças desse tipo. “Sabemos que, muitas vezes, as mulheres, devido ao trabalho, à criação dos filhos, à administração da casa e a múltiplas tarefas que assumem no dia a dia, acabam prejudicando o sono. No entanto, é fundamental cuidar do sono; as mulheres precisam garantir uma noite de sono tranquila. Costumo dizer aos pacientes que o sono é um verdadeiro remédio”, salienta a cardiologista. 

 

De acordo com Nacif, a pessoa que não dorme bem tem mais dor de cabeça, dores musculares, depressão e maior risco de doenças cardiovasculares. “Isso é reconhecido atualmente como um fator de risco cardiovascular. O sono não restaurador, quem dorme mal ou tem distúrbios do sono, sendo o principal deles a apneia obstrutiva do sono, é reconhecido como um fator de risco cardiovascular. Portanto, nós, cardiologistas, recomendamos que todos durmam de 7 a 9 horas por dia e tenham um sono regular. É muito importante ter disciplina para dormir. Isso inclui dormir e acordar todos os dias no mesmo horário e fazer a higiene do sono, ou seja, não usar telas antes de dormir, como celulares e televisões, e não praticar atividade física próxima ao horário de dormir. Todas essas medidas melhoram a qualidade do sono”, indica.

 

Neste sentido, Nacif ressalta que um sono restaurador melhora os desfechos cardiovasculares. “É muito importante que as pessoas durmam bem, pois o sono é realmente um remédio que beneficia o coração, os vasos sanguíneos e a saúde em geral”. 

 

Doenças cardiovasculares mais comuns em mulheres 

 

  • Doença Arterial Coronariana (DAC): é uma condição em que as artérias que fornecem sangue ao coração ficam obstruídas devido ao acúmulo de placas de gordura, o que pode levar a angina (dor no peito) ou infarto do miocárdio (ataque cardíaco). As mulheres são mais suscetíveis a essa condição, embora às vezes subestimem os sintomas;

 

  • Acidente Vascular Cerebral (AVC): os derrames ocorrem quando o suprimento de sangue para o cérebro é interrompido, muitas vezes devido a um coágulo ou à ruptura de um vaso sanguíneo. As mulheres mais velhas têm maior risco de AVC;

 

  • Hipertensão arterial: a pressão arterial elevada é um fator de risco importante para várias doenças cardiovasculares, incluindo a DAC e o AVC. As mudanças hormonais durante a menopausa podem aumentar o risco de hipertensão nas mulheres;

 

  • Insuficiência cardíaca: esta é uma condição crônica em que o coração não consegue bombear sangue eficazmente para atender às necessidades do corpo. Afeta homens e mulheres e pode ser causada por outras condições cardíacas;

 

  • Arritmias cardíacas: são distúrbios no ritmo cardíaco, como a fibrilação atrial, que podem aumentar o risco de coágulos sanguíneos e AVC. As arritmias podem afetar mulheres de todas as idades;

 

  • Doença Arterial Periférica (DAP): envolve o estreitamento das artérias que fornecem sangue às extremidades, geralmente as pernas. Isso pode causar dor ao caminhar e aumenta o risco de DAC e AVC;

 

  • Doença valvular cardíaca: afeta as válvulas cardíacas que controlam o fluxo sanguíneo dentro do coração. Problemas valvulares podem exigir intervenção médica, como a substituição de válvulas;

 

  • Cardiomiopatias: são doenças do músculo cardíaco que podem afetar homens e mulheres. Elas incluem a cardiomiopatia dilatada, restritiva e hipertrófica;

 

  • Dissecção da aorta: esta é uma condição rara em que a parede da aorta se separa, permitindo que o sangue flua entre as camadas da parede. É uma emergência médica que pode afetar pessoas de ambos os sexos.

 

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