Câncer de mama: diagnóstico, tratamento e autoexame
Entenda os principais fatores que aumentam o risco de câncer de mama e como se prevenir
3 de outubro de 2023 - às 15h07 (atualizado em 28/11/2023, às 16h56)
Envato
Escrito por
Dayana Bonetto
Redatora Let's Move 360
Segundo Estimativa 2023: incidência de câncer no Brasil, elaborada pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) e pelo Ministério da Saúde, entre os dez tipos de câncer mais comuns, o de mama é o que mais afeta as mulheres no país e apresenta a maior taxa de mortalidade entre a população feminina. De acordo com o INCA, em 2021, foram registrados 18.361 brasileiros que morreram devido à doença. Wesley Andrade, mastologista e cirurgião oncológico, destaca que o câncer de mama não possui uma única causa, mas diversos fatores de risco. “Envelhecimento, histórico familiar, estilo de vida, início precoce da menstruação, menopausa, amamentação, consumo excessivo de álcool, peso e sedentarismo podem contribuir para esse risco”, alerta. É importante lembrar que, embora as mulheres sejam quase a totalidade das pessoas afetadas, 1% dos casos de câncer de mama acontece entre os homens. O diagnóstico precoce e a prevenção são fundamentais para combater o câncer de mama.
Riscos e idade
Andrade explica que o câncer de mama, do ponto de vista biológico, consiste na multiplicação celular desordenada. “Isso ocorre devido a uma mutação no DNA da célula. O DNA da célula funciona como o sistema operacional da replicação celular. Quando perde seu controle refinado, a célula inicia a reprodução de forma desordenada, resultando em inúmeras células defeituosas. A aglomeração dessas inúmeras células, por sua vez, leva à formação de um nódulo ou massa, o que é denominado câncer”, pontua
De acordo com Lívia Daia, ginecologista, obstetra e mastologista, a doença é rara antes dos 35 anos, mas acima dessa idade, sua incidência cresce gradativamente, especialmente após os 50 anos. Segundo Andrade, essa é a faixa pós-menopausa. No entanto, ele alerta que também pode ocorrer em pessoas jovens. “Fundamentalmente, naquelas pacientes com mutação genética”, ressalta. Andrade recomenda que a mulher comece a se preocupar com o exame detalhado das mamas depois dos 35. “A idade recomendável para começar a fazer a mamografia é a partir dos 40 anos de idade, pois é nessa faixa etária que a curva de ocorrência começa a aumentar, sendo ainda mais significativa acima dos 50 anos”, indica.
Câncer de mama: nódulos, secreções e retração
O câncer de mama em sua fase inicial é completamente assintomático, diz Andrade. Ele explica que o nódulo só é percebido quando atinge alguns centímetros. “Os sintomas começam a aparecer quando o tumor atinge cerca de 1,5 cm a 2 cm, momento em que a paciente passa a perceber o nódulo”. Em outros casos, ele destaca que pode ocorrer secreção sanguinolenta pelo mamilo. Em situações mais avançadas, Andrade ressalta que há a retração do mamilo, espessamento da pele (que adquire uma aparência semelhante à casca de laranja), presença de gânglios na axila e dor na mama. Segundo Daia, a retração geralmente ocorre quando o tumor está localizado próximo da aréola ou da pele, gerando um repuxado nestas regiões.
Para Andrade, é importante destacar que a ocorrência de dor na mama é pouco frequente e atípica nos casos de câncer de mama, sendo geralmente associada a estágios mais avançados da doença.
Exames preventivos e necessários
Andrade alerta que o ideal é detectar o câncer em sua fase inicial, ou seja, antes de surgirem sintomas, e isso só é possível por meio da realização de exames preventivos de rastreamento, como a mamografia, e ocasionalmente a ultrassonografia e ressonância magnética. “É importante observar que o exame de prevenção do câncer de mama se trata de uma prevenção secundária, ou seja, possibilita a detecção do câncer em seu estágio inicial, mas não previne o seu desenvolvimento”. Ele conta que o termo médico para estratégias que visam evitar o surgimento da doença é chamado de prevenção primária. “A prevenção primária do câncer de mama está relacionada a mudanças no estilo de vida, como atividade física e controle de peso. No entanto, não é possível prevenir totalmente o câncer de mama, mas é possível reduzir os riscos”, esclarece.
No caso de suspeita, Andrade explica que é solicitado uma biópsia. “Consiste em retirar um pedacinho do tecido alterado e encaminhá-lo para uma análise no microscópio, conhecida como análise histopatológica ou anatomopatológica. Assim, somente por meio do olhar do patologista, poderemos realmente determinar se aquela célula apresenta as características de um câncer”, pontua.
Tipos de exames: detecção e acompanhamento
A escolha do exame apropriado depende da situação individual de cada mulher e das recomendações médicas.
- Mamografia: é um exame de raio-X das mamas. É incômodo, mas é rápido. Para realizá-lo, a mulher fica em pé na frente de uma máquina especial. O técnico posiciona uma das mamas entre duas placas planas, que pressionam suavemente a mama para que ela fique plana. Isso é necessário para obter imagens claras. Então, uma outra máquina tira a imagem da mama, que é registrada em um filme ou computador;
- Ultrassonografia: esse exame utiliza ondas sonoras em vez de raios-X. Um gel é aplicado na pele da mama e um aparelho de ultrassom é movido suavemente sobre a área. O gel ajuda a transmitir as ondas sonoras e a criar imagens das estruturas internas da mama. A ultrassonografia é indolor e não envolve radiação;
- Ressonância magnética: na ressonância magnética das mamas, a pessoa deita em uma maca que desliza para dentro de um tubo grande que possui ímãs potentes. Não há dor durante o exame. É importante permanecer imóvel durante o exame para obter imagens nítidas;
- Biópsia: é um procedimento para coletar um pequeno pedaço de tecido da mama para análise. Geralmente, um médico utiliza uma agulha especial para retirar essa amostra. Antes da biópsia, a área é anestesiada para minimizar qualquer desconforto. Este exame é realizado quando há alguma suspeita de anormalidade nas mamas.
Câncer de mama diagnosticado
De acordo com Andrade, uma vez diagnosticado o câncer, será necessário compreender o comprimento da doença. “A extensão também será avaliada por meio de mamografia, ultrassom e/ou ressonância magnética das mamas, que determinarão o tamanho do tumor na mama e sua relação com outras estruturas mamárias, bem como a presença de gânglios na axila. Nos casos mais avançados, com tumores grandes, é essencial verificar se há disseminação para o corpo, o que pode exigir tomografias computadorizadas, cintilografias ósseas ou, eventualmente, uma PET CT ou PET scan. No entanto, esse exame de corpo inteiro só é indicado para casos de médio a grande volume.”
- Tomografias Computadorizadas (TC): exame de imagem que usa raios-X para criar imagens detalhadas do corpo e identificar tumores, incluindo os da mama;
- Cintilografias ósseas: verifica a saúde dos ossos, usando uma substância radioativa para detectar metástases ósseas em casos avançados de câncer de mama;
- PET CT ou PET Scan: combinação de tomografia computadorizada e substância radioativa para mostrar áreas com alta atividade metabólica, auxiliando na detecção de câncer e metástases em todo o corpo.
Mastectomia: tratamento do câncer de mama e prevenção em casos de alto risco
O câncer de mama passa por diversas fases, desde o diagnóstico até o tratamento. Um dos cuidados possíveis é a mastectomia, um procedimento cirúrgico que envolve a remoção total ou parcial da mama. É frequentemente realizada como parte do tratamento para o câncer de mama, mas também pode ser feita por razões preventivas em casos de alto risco de desenvolver a doença.
Carol Gisselle Martinez, ginecologista e obstetra explica que existem vários tipos de mastectomias. Ela cita as mais comuns: “Existem as que são simples, ou seja, elas retiram todo o tecido mamário, incluindo mamilo e pele. Também temos a mastectomia radical. Ela além de retirar a mama, a pele e o mamilo, também remove linfonodos da axila, que são locais de metástase ou disseminação do câncer de mama”, ressalta.
Martinez destaca que algumas mastectomias já incluem o procedimento de reconstrução mamária. “A mastectomia poupadora de pele, por exemplo, permite realizar, no mesmo procedimento, a reconstrução mamária com outras técnicas. Uma delas é chamada TRAM, que utiliza um retalho de gordura do abdômen para dar volume à mama após a retirada do tecido mamário. Também pode ser usado o implante de silicone no processo de reconstrução”, esclarece.
Ela explica também que no câncer de mama em estágio inicial, a cirurgia recomendada é uma setorectomia, ou seja, a retirada de um setor ou local da mama, removendo um pedaço do tecido mamário, sem retirar a mama completa. “O local escolhido é onde o nódulo se formou, e um pouco a mais do nódulo é retirado, garantindo uma margem”, explica. Segundo ela, geralmente, durante a mesma cirurgia, um patologista examina as margens para garantir que estejam livres de doença. Assim, apenas o tumor é removido, já que está localizado em um estágio inicial. Martinez ressalta: “ter câncer de mama não significa necessariamente a remoção completa da mama, especialmente se for um estágio inicial”, afirma.
Tipos de Mastectomia
- Mastectomia total (ou simples): toda a mama é removida, incluindo o tecido mamário, os ductos e os lóbulos.
- Mastectomia radical modificada: envolve a remoção da mama afetada, bem como dos linfonodos axilares (gânglios linfáticos na axila). Os músculos peitorais são preservados;
- Mastectomia radical: uma cirurgia mais extensa que remove a mama, os linfonodos axilares e parte dos músculos peitorais.
Outras opções de tratamentos
É importante destacar que o câncer de mama é classificado em diferentes estágios, que determinam a extensão da doença e guiam as opções de tratamento. Daia destaca que além da mastectomia, outros tratamentos também podem ser parte do processo, dependendo do estágio e características do câncer. São eles:
- Radioterapia: tratamento que usa radiações para destruir as células cancerígenas que possam ter ficado após a cirurgia. Funciona como um raio que mira apenas na área afetada;
- Quimioterapia: envolve medicamentos que circulam pelo corpo inteiro, ajudando a matar células cancerígenas onde quer que estejam. É como um tratamento de corpo inteiro;
- Hormonioterapia: para cânceres que são sensíveis a hormônios, essa terapia bloqueia ou reduz os hormônios que podem alimentar o câncer de mama;
- Terapia alvo: é um tratamento mais específico que mira em alvos específicos nas células cancerígenas, geralmente bloqueando proteínas que ajudam no crescimento do câncer;
- Imunoterapia: envolve medicamentos que fortalecem o sistema imunológico do corpo para que ele possa combater as células cancerígenas de forma mais eficaz.
Como fazer autoexame de mama
O autoexame pode ser realizado em três etapas: observação em frente ao espelho, apalpação durante o banho e apalpação deitada:
Observação frente ao espelho
- Tire a blusa e o sutiã e fique em frente ao espelho com as mãos na cintura;
- Verifique o tamanho, o formato e o contorno das mamas;
- Observe se há alterações na pele da mama, na aréola ou no mamilo;
- Verifique se o sutiã deixa marcas em apenas uma das mamas, indicando inchaço;
- Deixe os braços soltos ao lado do corpo e observe as mamas novamente;
- Erga os braços e observe se há alterações.
Apalpação durante o banho
- Com a coluna ereta, coloque a mão esquerda atrás da nuca, com o cotovelo apontado para cima;
- Deslize a mão direita pela mama esquerda, apalpando-a com a ponta dos dedos;
- Faça movimentos circulares com firmeza, mas sem causar desconforto ou dores, iniciando na axila e seguindo em direção ao mamilo;
- Durante a apalpação, verifique se há regiões mais densas ou caroços;
- Faça os mesmos movimentos circulares na região das axilas, observando se há algum nódulo palpável;
- Pressione delicadamente o mamilo para verificar se há saída de líquido de origem desconhecida;
- Troque a posição dos braços, colocando a mão direita na nuca, e repita o passo a passo desta etapa.
Apalpação deitada
- Deite-se na cama, coloque um travesseiro fino embaixo do ombro esquerdo e leve a mão esquerda para trás da cabeça;
- Com a outra mão, apalpe a mama esquerda e faça movimentos circulares com a ponta dos dedos, verificando a presença de anormalidades;
- Coloque o travesseiro embaixo do ombro direito e repita os passos com a outra mama.
Sinais para observar durante o autoexame de mama
- Mama inchada, com tamanho ou formato alterado;
- Mamilo secretando líquido sem que você esteja amamentando;
- Irritação ao redor do mamilo com vermelhidão, coceira ou ardência;
- Pequenas feridas ou lesões na mama;
- Região da mama “afundada” ou retraída, com prejuízo ao contorno;
- Caroço perceptível ao toque na mama ou na axila;
- Veia dilatada ou aumentando de tamanho na mama;
- Textura da pele alterada com surgimento de rugas ou aparência de celulite;
- Mamilo que mudou de posição ou virado para dentro (inversão);
- Dores nas mamas ou nas axilas.
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