Canabidiol (CBD): o que é, indicações, benefícios e efeitos colaterais

Segundo o Conselho Federal de Medicina, a dose diária de canabidiol deve ser ajustada individualmente, sem ultrapassar 25 mg por quilo de peso do indivíduo

17 de agosto de 2023 - às 16h09 (atualizado em 28/11/2023, às 17h15)

três vidros com óleo de canabidiol ao lado de folhas de maconha e um vidro deitado sobre uma toalha branca
Crédito:

Envato

Escrito por

Dayana Bonetto

Redatora Let's Move 360

O canabidiol (CBD) é uma substância natural encontrada na planta Cannabis sativa, também conhecida como maconha. Diferentemente do tetrahidrocanabinol (THC), outro componente da planta, o CBD não possui efeitos psicoativos. Isso significa que seu consumo não resulta em alterações na consciência ou percepção sensorial. Essa característica torna o CBD uma opção promissora para uso medicinal, uma vez que seus benefícios podem ser explorados sem os efeitos psicóticos associados à maconha.

 

Francinaldo Gomes, neurocientista e neurocirurgião, destaca que na neurologia, por atuar no sistema nervoso central, o canabidiol tem sido utilizado para o tratamento de alguns tipos de epilepsias graves e refratárias. Além disso, ele ressalta que o uso do CBD tem sido objeto de pesquisa para tratar outros casos. “Diversos estudos estão sendo conduzidos em busca de evidências que justifiquem seu uso em outras situações, como autismo, ansiedade, dores crônicas, fibromialgia, insônia, doença de Parkinson, Alzheimer e até tratamentos veterinários”.

 

Compostos que derivam da cannabis

 

Segundo Gomes, são vários os compostos que derivam da cannabis, mas os mais importantes são os canabinoides. “Existem cerca de 60 canabinoides, dos quais o composto psicoativo mais importante é o tetrahidrocanabinol, também chamado de THC. Outros identificados são o canabidiol, o canabigerol, o canabinol e o canabicromeno, além do olivetol”, explica. O canabinol pode influenciar o sono e o canabicromeno pode ajudar no alívio da dor. O olivetol é considerado um precursor, o que significa que pode ser usado para criar outros compostos na planta. Gomes ressalta que além dos canabinoides, a planta contém outras substâncias.“Os terpenos são substâncias com cheiro que fazem as plantas cheirarem do jeito delas. O terpeno chamado beta-mirceno, por exemplo, pode relaxar, e outro chamado beta-cariofileno pode ajudar a diminuir inflamações”.

 

De acordo com Gomes, uma dúvida comum entre pacientes e até médicos é a diferença entre o canabidiol e o tetrahidrocanabinol. O THC afeta a mente e pode causar alterações de percepção e sensação. Ele possui efeitos psicoativos, enquanto o CBD não possui. “Para fins de tratamento, em contraste com o THC, o canabidiol não intoxica, pois não apresenta atividade psicoativa, ou seja, ele não vicia. Exerce vários efeitos farmacológicos benéficos, incluindo atividades analgésicas e anti-inflamatórias importantes”, destaca. Gomes esclarece que o canabidiol atua num sistema chamado endocanabinoide. “Ele é quem regula outros sistemas, como, por exemplo, o apetite, o sistema imunológico, o sono, a questão da reprodução, o nosso mecanismo de defesa e as funções neurológicas básicas. Portanto, é um sistema que nós já temos em nosso corpo, que a natureza já nos preparou para receber essas substâncias”, exemplifica.

 

Canabidiol: indicação, dose e forma de administração

 

De acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), a prescrição de canabidiol só é permitida para pacientes de dois tipos de epilepsia: síndrome de Lennox-Gastaut e síndrome de Dravet. A síndrome de Lennox-Gastaut é uma doença que afeta o cérebro e causa convulsões, atrapalhando a pessoa em coisas como aprender e se concentrar.  Já a síndrome de Dravet é outra condição que provoca muitas convulsões desde cedo na vida, geralmente começando na infância. Pode trazer problemas no desenvolvimento e no aprendizado.

 

Segundo o CFM, a dose diária deve ser ajustada individualmente, mas não deve ultrapassar 25 mg por quilo de peso da pessoa. O médico deve informar ao paciente ou responsável sobre os possíveis efeitos colaterais e riscos do tratamento.

 

Embora sua apresentação mais conhecida seja o óleo, Gomes pontua que atualmente é possível encontrar canabidiol em cápsulas, spray e cremes para uso tópico, especialmente em pessoas com dores localizadas. “Normalmente, inicia-se o tratamento com óleo de canabidiol em doses baixas, escolhendo a formulação com o THC ou sem o THC, dependendo da doença que se deseja tratar. Conforme o acompanhamento é feito, a dose então vai sendo ajustada até que se obtenha o efeito desejado ou mesmo até que surjam alguns efeitos colaterais”, destaca. Gomes completa: “portanto, o tratamento depende principalmente do paciente, do tipo de óleo que está sendo usado e também da dose utilizada. No entanto, em geral, os resultados costumam ser muito bons”. 

 

Grupos que devem evitar o uso do canabidiol

 

O CBD tem ganhado atenção por seus possíveis benefícios terapêuticos. No entanto, de acordo com o CFM, existem alguns grupos de pessoas para os quais seu uso não é recomendado:

 

  • Crianças menores de 2 anos: o canabidiol não é indicado para crianças com menos de 2 anos de idade. Isso ocorre porque os efeitos do CBD em crianças tão jovens ainda não foram completamente estudados, e o sistema nervoso delas está em desenvolvimento;

 

  • Pessoas com histórico de abuso de drogas ilícitas: indivíduos com um histórico de abuso de drogas ilícitas devem ser cuidadosos ao considerar o uso de produtos de CBD. O CBD, embora não tenha propriedades psicoativas fortes como o THC, ainda é derivado da planta de cannabis. Pessoas com histórico de abuso de substâncias podem ser mais propensas a ter reações adversas ou a desenvolver dependência, mesmo em relação ao CBD;


  • Alergia ao canabidiol: assim como qualquer outra substância, algumas pessoas podem ser alérgicas ao canabidiol. Embora as alergias ao CBD sejam relativamente raras, é importante ficar atento a qualquer reação após o uso. Se houver sinais de alergia, como coceira, erupções cutâneas, inchaço ou dificuldade respiratória, o uso do CBD deve ser interrompido imediatamente e um médico deve ser consultado;


  • Mulheres grávidas e amamentando: mulheres nessas condições devem evitar o uso de produtos de CBD. A pesquisa sobre os efeitos do CBD durante a gravidez e a amamentação ainda é limitada. Como precaução, é aconselhável que elas evitem o uso de CBD até que mais informações estejam disponíveis.

 

Canabidiol e tetrahidrocanabinol: efeitos colaterais

 

Segundo Gomes, é essencial entender as implicações do uso de canabidiol e tetrahidrocanabinol para um tratamento seguro e eficaz:

 

  • Canabidiol e efeitos no fígado: o uso concomitante de CBD com outros medicamentos que atuam no fígado pode causar alterações hepáticas. É fundamental realizar exames de sangue regulares para monitorar a função do fígado;


  • Tetrahidrocanabinol e efeitos no sistema nervoso: o THC pode causar efeitos no sistema nervoso, incluindo tontura, alterações de apetite, depressão, desorientação e mudanças de humor. Algumas alterações de memória, dificuldade de equilíbrio, atenção e visão embaçada também podem ocorrer. Há também a possibilidade de prisão de ventre e ocasional sedação, especialmente em combinação com outras substâncias sedativas;


  • Importância do acompanhamento médico regular: é fundamental para orientar o início do uso de CBD, ajustes de dose e gerenciamento de efeitos colaterais.


  • Uso de múltiplos medicamentos: em situações comuns de uso de vários medicamentos, como para dores crônicas ou epilepsia, os medicamentos são mantidos inicialmente. Durante o acompanhamento, ajustes nos medicamentos podem ser feitos à medida que os efeitos benéficos do tratamento com CBD se manifestam. Redução ou ajuste das doses de outros medicamentos devem ser conduzidos sob orientação médica.

 

É possível comprar canabidiol?

 

Segundo Gomes, o CBD aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é vendido em farmácias com uma prescrição médica especial, conhecida como controle especial B. Isso se aplica a medicamentos ou substâncias regulamentadas e de uso restrito, de acordo com as leis vigentes. Em certos casos, pode ser necessário uma declaração assinada pelo médico. “Se o medicamento não tem registro na Anvisa, é preciso ter uma documentação especial do médico, que inclui uma receita, um relatório médico e um termo de consentimento. Nesse termo, o paciente assina para confirmar que sabe da situação. Basicamente, é um termo que mostra que o paciente está ciente de que o medicamento ainda não foi aprovado pela Anvisa”, esclarece. 

 

Os produtos mais acessíveis, elaborados por associações nacionais, podem chegar a custar até R$400,00 por um frasco de 30 ml. 

 

Para importar outros produtos à base de cannabis, é necessário obter permissão da Anvisa. 

 

Produção de canabidiol em casa

 

Gomes aconselha evitar a tentativa de produzir o medicamento de forma doméstica. “Não é recomendado que a pessoa produza o medicamento em casa, visto que o processo de produção não é controlado, a dose administrada não pode ser determinada com precisão e, frequentemente, pode levar a efeitos colaterais sem o devido acompanhamento médico adequado”, alerta. 

 

Para plantar a cannabis, é necessário obter um habeas corpus na Justiça. 

 

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