Alcoolismo: impactos silenciosos no coração e vasos sanguíneos

Descubra como o álcool, em excesso, pode comprometer o funcionamento do corpo e desencadear sérias consequências cardiovasculares

20 de março de 2024 - às 18h33 (atualizado em 20/3/2024, às 18h41)

Escrito por

Dayana Bonetto

Redatora Let's Move 360

O alcoolismo, considerado uma doença pela Organização Mundial da Saúde, traz consequências sérias para o corpo. O excesso de bebida, sem controle, afeta o funcionamento do organismo, como o fígado, o sistema nervoso e o coração, o que pode levar a problemas irreversíveis de saúde. Além disso, o álcool prejudica o lado emocional, causando alterações no humor e no pensamento. No lado social, afeta os relacionamentos, tanto pessoal quanto profissional.

Segundo o Ministério da Saúde, o álcool presente nas bebidas, conhecido como etanol, é produzido através da fermentação de ingredientes naturais. Por exemplo, na aguardente, o álcool é resultado da fermentação da cana-de-açúcar, enquanto na cerveja, provém da fermentação da cevada. Quando ingerido, o etanol passa pelo estômago e é absorvido pelo intestino, sendo transportado pelas correntes sanguíneas até o cérebro.

Eduardo Toledo de Aguiar, diretor da Spaço Vascular, presidente da Associação Brasileira de Flebologia e Linfologia, cirurgião vascular e angiologista, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, explica que a longo prazo, o consumo excessivo prejudica especialmente o fígado, responsável por eliminar substâncias tóxicas provenientes da ingestão ou produzidas durante a digestão. “Se houver uma quantidade elevada de álcool no sangue, o fígado enfrenta uma sobrecarga para metabolizá-lo. Esse excesso pode resultar em inflamações, como gastrite no estômago, hepatite alcoólica no fígado, pancreatite no pâncreas, neurite nos nervos e, o que muitos não sabem, prejudicam veias, artérias e todo o sistema cardiovascular”, alerta.

Consumo excessivo de álcool  e sistema cardiovascular

Segundo Aguiar, o consumo excessivo de álcool acarretar sérios danos aos vasos, veias, artérias, capilares e ao coração. “Um dos problemas mais graves relacionados ao álcool é a aterosclerose, que se caracteriza pelo endurecimento dos vasos. O álcool em grandes quantidades provoca inflamação crônica nos vasos, sendo um dos fatores responsáveis pelo desenvolvimento da rigidez arterial, condição denominada aterosclerose”.

Além disso, ele destaca que o consumo excessivo de álcool ativa enzimas que estimulam o aumento da quantidade de colágeno, contribuindo para o endurecimento das artérias. “Se não tratada, a aterosclerose pode interferir diretamente na circulação sanguínea, resultando em sintomas como fraqueza muscular, confusão mental e dor no peito, entre outros”, alerta.

Outro impacto do álcool no sistema vascular que Aguiar salienta é a vasodilatação, que pode levar ao surgimento de varizes. “A dilatação vascular provocada pelo álcool pode fazer com que as veias se tornem tortuosas e visíveis, caracterizando as varizes. Esses problemas não devem ser subestimados, visto que afetam diretamente a saúde cardiovascular e podem ter consequências graves se não forem tratados adequadamente”, enfatiza.

Outras consequências do consumo excessivo de álcool nas veias, artérias e sistema cardiovascular 

  • Hipertensão: o consumo excessivo de álcool está associado ao aumento da pressão arterial, o que pode levar a hipertensão, um fator de risco significativo para doenças cardiovasculares;
  • Arritmias cardíacas: o álcool pode desencadear arritmias cardíacas, perturbando o ritmo normal do coração e aumentando o risco de complicações cardiovasculares;
  • Insuficiência cardíaca: o coração pode enfraquecer devido ao consumo excessivo de álcool, levando à insuficiência cardíaca, uma condição em que o coração não bombeia sangue eficientemente para atender às necessidades do corpo;
  • Trombose: o álcool pode aumentar o risco de formação de coágulos sanguíneos, contribuindo para a trombose, uma condição em que os coágulos podem obstruir os vasos sanguíneos e interferir no fluxo sanguíneo normal;
  • Endocardite: o consumo prolongado de álcool também pode aumentar o risco de endocardite, uma inflamação do revestimento interno do coração, muitas vezes associada a danos nas válvulas cardíacas.

Alcoolismo: sintomas e  síndrome de abstinência

Segundo Filipe Colombini, psicólogo e CEO da Equipe AT, os sintomas vão desde a perda de controle do impulso até tontura. “A pessoa com dependência de álcool tem a síndrome de abstinência. No caso, por exemplo, quando não bebe, sente tremores nos lábios, mãos, pés, mal-estar, vômitos, suor excessivo, ansiedade, irritação, podendo evoluir para estados graves de confusão mental, prejudicando as funções executivas, a memória de curto, longo, médio prazo, orientação de tempo, espaço, alucinações auditivas e visuais, além dos próprios impactos relacionados à saúde física, em termos de problemas intestinais, gástricos e cardíacos. E de fato, a dependência comportamental faz o indivíduo aumentar a sua tolerância do diálogo, aumentar o volume. De fato, ter sintomas de fissura, de abstinência, quando não tem o uso do álcool, utilizando o maior volume do álcool para ter as mesmas sensações iniciais”, alerta.

Alcoolismo: uso funcional e regulação emocional

Colombini explica que, normalmente, o álcool tem a função depressora, ou seja, de baixar as sensações. “E aí, o uso funcional do álcool amplia uma série de questões variáveis, desde usar o álcool para se atorpecer por não conseguir lidar com as emoções, com os eventos aversivos, com as resoluções e tomadas de decisões da vida. E também tem uma função de regulação emocional, além de aspectos sociais: sentir-se mais sociável, ter uma alteração corporal que disponibiliza a baixar o nível de ansiedade por ser um efeito depressor, de poder interagir, ter efeitos relacionados à própria interação com as pessoas e ser incluído num grupo, principalmente pensando em adolescência, pré-adolescência, tem uma função de contracontrole, de se opor a regras e limites, pensando na adolescência, mas também, adultos. Enfim, aí é um uso dual que ele tem múltiplas funções, dependendo da história de cada família, de cada pessoa”, destaca.

Tratamento: internação e desintoxicação

O psicólogo destaca que a internação para desintoxicação do álcool é um dos tratamentos recomendados e varia de três a seis meses, sendo individualizada. “A internação tem como objetivo a desintoxicação do álcool em si e pode durar de três a seis meses. Mas isso vai variar de indivíduo para outro, pois não existe um número padrão. Em termos de hábitos de consumo, vai variar mesmo. É preciso fazer uma avaliação comportamental, biológica, minuciosa, pelo psiquiatra, pelo médico clínico, pelo psicólogo. E a intervenção se dá tanto via psicoterapia, uma terapia convencional, sim, mas para esse tipo de demanda, normalmente o AC, o Alcool Paneterapêutico Ateivimento Extra-Construtor, é primordial, eu diria essencial, complementando tanto tratamentos medicamentosos quanto também  intervenções herbáceas”, indica.

Colombini completa: “o terapeuta estar no ambiente do paciente é extremamente importante para ajudar a identificar gatilhos de uso, fazer exposições sociais, da qual ele desenvolve comportamentos alternativos em relação ao uso, porque de fato, com o álcool, tudo se volta ao álcool, socialização, a troca, o lazer. Então, esse enriquecimento do ambiente é por meio de exposições da qual o AT ele vai variando e vai expondo esse paciente, ensinando habilidades de comunicação, de assertividade, de recusa da bebida, de frequentar locais que não tenham gatilho com uso, enfim, uma série de intervenções ambientais que só a terapia extra-consultório faz”. 

O psicólogo destaca que a terapia de consultório deve ser complementada por uma abordagem fora do consultório, sendo essencial para o tratamento de comportamentos impulsivos e vícios, como o alcoolismo. “A intervenção ambiental, realizada por uma equipe de Acompanhamento Terapêutico (AT), também é crucial para expor gradualmente o indivíduo a gatilhos, ensinar habilidades e promover repertórios alternativos. Desenvolver habilidades sociais e emocionais, além da autorregulação emocional, são aspectos fundamentais muitas vezes trabalhados fora do consultório, ressaltando a influência significativa da abordagem do AT na recuperação de diferentes vícios”.

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