Capoeira: a arte marcial que fortalece corpo e mente

A capoeira é uma expressão cultural brasileira que combina golpes e movimentos de artes marciais, exercícios físicos, cultura popular, dança, música e acrobacias. Essa prática traz inúmeros benefícios tanto para o corpo quanto para a mente. À medida que os praticantes a executam, seus corpos são gradualmente fortalecidos, pois a capoeira trabalha a coordenação motora, melhora o equilíbrio, aumenta a flexibilidade e alonga a musculatura. Além disso, ela contribui para o equilíbrio emocional, autoconfiança, concentração, desenvolvimento de laços sociais, resiliência, redução da ansiedade e autocontrole mental. Por ser uma prática versátil, a capoeira é acessível a pessoas de todas as idades.

 

De acordo com Cynthia Zottarelli, mestre em antropologia e professora de capoeira na academia Competition, a capoeira é uma arte marcial afro-brasileira, criada e desenvolvida pelos africanos durante o período em que foram escravizados no Brasil. Gersivanio Nobre, educador físico da academia Evoque, conta que, para resistir às repressões, os negros introduziram mímicas e danças na prática. Marcelo de Souza Silva, mestre em ciências da saúde e mestre no Grupo Capoeira Angolinha, completa que, mais do que uma luta de resistência do povo escravizado, a capoeira agregou também a cultura de povos indígenas e de europeus que viviam à margem da sociedade.

 

Tipos mais comuns de capoeira: Angola e Regional

 

• Capoeira Angola: é um estilo mais tradicional e antigo da capoeira. Possui movimentos mais lentos e próximos ao chão. A música desempenha papel importante, com berimbaus e outros instrumentos tradicionais criando um ritmo mais lento e melodioso. A roda de Capoeira Angola costuma ser menor e mais íntima, com os jogadores se movendo em um ritmo cadenciado, ou seja, um padrão regular e equilibrado de batidas, batimentos ou movimentos que ocorrem com uma regularidade constante. Este estilo tem fortes raízes africanas e busca preservar a cultura e a tradição;

 

• Capoeira Regional: é um estilo mais moderno e dinâmico. Possui movimentos mais rápidos e acrobáticos, com uma abordagem mais esportiva. A música na Capoeira Regional é mais rápida e energética, muitas vezes com letras que incentivam a competição. A roda de Capoeira Regional tende a ser maior e mais aberta, com os jogadores se movendo em velocidade mais rápida. 

Tipos de instrumentos da capoeira: Angola e Regional

 

De acordo com Zottarelli, tradicionalmente, o principal instrumento da capoeira é o berimbau. “É ele quem comanda o ritmo e dita a movimentação dos jogadores na roda de capoeira. É composto pela corda de aço, verga e cabaça, que é tocado pelo dobrão e pela baqueta”, pontua. Zottarelli conta também que em uma roda tradicional de capoeira angola, existem: “o berimbau gunga, berimbau médio e berimbau viola (ambos com som mais agudo). O principal é o berimbau gunga”. Nobre explica que esse tipo de berimbau possui um som mais grave. “Ele que faz a marcação do toque e rege a roda de capoeira”. 

 

Além desses berimbaus tradicionais da capoeira angola, há outros instrumentos que fazem parte desse estilo. Entre eles estão o caxixi, um cestinho de vime com sementes; o atabaque, que acompanha o berimbau; o pandeiro, com som agudo; o reco-reco, que produz som quando uma vareta é passada por suas ranhuras; e o agogô, que serve como contraponto rítmico aos demais instrumentos. Cada um desempenha um papel importante na tradição musical da capoeira.

 

Já no estilo típico regional, Zottarelli destaca que existem um berimbau gunga e dois pandeiros.

 

Benefícios da capoeira: corpo e mente

 

Silva destaca que a prática da capoeira traz benefícios físicos e mentais quando realizada com orientação adequada e como atividade física regular. Ele afirma que a disciplina e a frequência fortalecem a musculatura de forma equilibrada e abrangente, estimulam a flexibilidade, promovendo, assim, o equilíbrio, agilidade, coordenação e consciência corporal. De acordo com Silva, esse conjunto de habilidades físicas, além dos benefícios fisiológicos, como cardiovasculares, manutenção e desenvolvimento de massa muscular e ossos, e perda de peso, contribui para o bem-estar mental, eliminando o estresse, melhorando o sono, elevando a autoestima e auxiliando no controle de quadros de ansiedade e depressão, entre outros.

 

Ainda sobre os benefícios mentais, Silva ressalta que: “a capoeira, devido ao seu forte componente de interação social, cria laços e reforça valores éticos de respeito ao próximo e à vida em sociedade, que são praticados diariamente na roda da capoeira, como a coletividade, o pertencimento, a igualdade e, sobretudo, a liberdade no sentido mais amplo, que foi e é a força motriz que fez surgir e crescer a capoeira”, diz. 

 

Além desses benefícios, Zottarelli explica que a capoeira possibilita o desenvolvimento do sistema cognitivo, responsável pelo processamento de informações, compreensão da informação, desenvolvimento da função motora, memória, habilidades corporais, equilíbrio e também da função executiva, que envolve a capacidade de prever o que acontecerá em seguida. “Portanto, ela exige do praticante, além do desenvolvimento físico, habilidades rítmicas, pois envolve gingar ao ritmo da música tocada na roda de capoeira, acompanhando as instruções do berimbau”, ensina.

 

Nesse sentido, Zottarelli destaca também que para praticar capoeira, é necessário desenvolver o raciocínio lógico e rápido. “É uma arte marcial baseada em perguntas e respostas, semelhante a outras. A grande diferença da capoeira está na combinação única de elementos rítmicos, acrobáticos e expressivos, que proporcionam uma experiência única”, esclarece, 

 

Nobre enfatiza que a capoeira estimula o respeito pelo próximo e desenvolve a tolerância. “No caso das crianças, em especial, por meio dessa atividade, elas aprendem, por exemplo, a ter cuidado com os movimentos que pretendem fazer para não machucar os outros; compreendem que a atividade envolve a participação de todos, independentemente de suas habilidades. A capoeira faz uma clara distinção entre defesa e ataque, e quem pratica essa atividade não é incentivado a ‘sair atacando’, mas sim a observar, refletir e, se necessário, agir de modo a proteger a própria defesa. Isso torna a capoeira um excelente meio de aprendizado para crianças, que costumam compreender de forma mais rápida e lúdica que a violência não vale a pena”, alerta.

 

 

 

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