Mecanismo e estratégia na compulsão alimentar

Nosso colunista, Leonardo Soares, fala sobre o Transtorno de Compulsão Alimentar (TCAP)

31 de julho de 2023 - às 10h09 (atualizado em 31/7/2023, às 10h11)

Homem morde um hamburguer com muita fúria
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Envato

Leonardo Soares

Escrito por

Leonardo Soares

Nutricionista - CRN 3 - 65923

Uma das principais características do Transtorno de Compulsão Alimentar (TCAP) é comer grandes quantidades de comida em poucos minutos, isso está ligado a uma perda de controle pelos próprios impulsos e não necessariamente essa alimentação exagerada vai gerar uma sensação de prazer. E esse episódio é geralmente seguido de uma sensação de vergonha, tristeza e culpa.

 

Além disso, para ser considerado TCAP, devem ocorrer pelo menos dois episódios por semana, durante seis meses. Então, pode ser que você não tenha TCAP, mas apenas teve um episódio pontual de comer compulsivamente, por exemplo, por ter ficado um longo período de jejum ou ter sofrido uma decepção.

 

Às vezes, a Bulimia Nervosa (BN) é confundida com TCAP. E existe diferença entre essas duas condições. A BN é acompanhada de comportamentos compensatórios (vômitos ou exercícios em excesso), enquanto não vemos isso no TCAP.

 

Dificilmente você verá um episódio de compulsão alimentar ao vivo, porque essas pessoas sentem tanta vergonha com essa situação, que preferem se alimentar sozinhas.

 

Décadas atrás, foi sugerido que o TCAP está ligado a fatores emocionais. O que não seria uma afirmação absurda, se pensarmos que comumente usamos a comida como forma de comemoração, por exemplo, quando recebemos uma promoção no trabalho ou como forma de escape de situações difíceis – término daquele namoro de muitos anos. Além disso, parece que 67-79% das pessoas com TCAP apresentam pelo menos um transtorno psiquiátrico ao longo da vida, sendo o transtorno de humor e ansiedade os mais comuns.

 

Entre as alterações de humor que parecem estar mais relacionadas a esse tipo de situação, estão a ansiedade, tristeza, depressão e, principalmente, raiva e frustração. Uma pesquisa apontou que esses sintomas acontecem pouco antes de um episódio compulsivo em 95% dos casos.

 

Um filósofo chamado Sêneca (4a.C a 65d.C) recomenda que a melhor forma de fugir das garras da ansiedade é juntar os três tempos (passado, futuro e presente) em um só, através da meditação.

 

A ansiedade e qualquer outro tipo de transtorno mental é algo extremamente complexo e difícil de ser diagnosticado, por isso é fortemente desaconselhável que alguém pratique o autodiagnosticado. Se você desconfia estar sofrendo de algum transtorno psicológico/mental, procure um profissional especializado nessa área para lhe ajudar com o diagnóstico.

 

Pensando nessas alterações comportamentais, é importante falar que a atividade física atua de forma eficiente no tratamento do humor das pessoas.

 

E se formos mais a fundo no assunto, vamos descobrir que a contração muscular estimula a produção de uma substância com efeitos positivos nos sintomas depressivos, pois vai garantir que tenhamos a adequada conversão de triptofano em serotonina, às vezes chamado de hormônio do humor.

 

Uma estratégia para contornar episódios de compulsão é treinar a alimentação consciente, o Mindful Eating. Que significa estar 100% presente na refeição, se alimentando longe de smartphone e televisão.

 

Aparentemente, o ato de se alimentar conscientemente foi negativamente relacionado com o TCAP. Isso significa que quanto mais concentrado você fica no alimento que está sendo consumido, menores são as chances de ter um episódio compulsivo.

 

Agora, podemos ter uma noção de que a compulsão alimentar não é só perder a luta contra um bombom que estava bem na sua frente. Essa condição clínica é multifatorial e o seu tratamento deve ser multiprofissional.