Genética e intolerância à lactose: como elas se conectam

51% da população têm predisposição para intolerância à lactose, alerta pesquisa

6 de maio de 2024 - às 10h21 (atualizado em 6/5/2024, às 10h21)

Criança negra recusando leite para a mãe
Crédito:

Envato

Escrito por

Dayana Bonetto

Redatora Let's Move 360

De acordo com o levantamento “O perfil do DNA do brasileiro na saúde e bem-estar”, feito pelo laboratório Genera, 51% da população tem predisposição para desenvolver intolerância à lactose. O estudo analisou dados de 200 mil amostras de DNA de todas as regiões brasileiras. Andrea Pereira, médica nutróloga e cofundadora da ONG “Obesidade Brasil”, explica que a intolerância à lactose ocorre quando a pessoa não consegue digerir bem o açúcar do leite e de seus derivados, como queijo e iogurte. “Isso acontece porque o corpo não tem, ou tem pouca, enzima lactase, que é responsável por quebrar esse açúcar. Quando a lactose não é digerida, ela vai para o intestino grosso, onde é fermentada pelas bactérias que vivem lá. Essa fermentação produz gases e faz com que o corpo retenha mais água, o que causa sintomas como diarreia, gases e dores na barriga”, ela pontua.

Tipos de intolerância à lactose

  • Intolerância à lactose congênita: é genético e ocorre quando uma criança nasce sem a capacidade de produzir lactase, a enzima necessária para digerir a lactose. É uma forma rara, mas persistente, de intolerância à lactose;
  • Intolerância à lactose primária: com o passar do tempo, especialmente a partir da adolescência, a produção de lactase tende a diminuir naturalmente. Esse é o tipo mais comum de intolerância à lactose, que geralmente se mantém ao longo da vida;
  • Intolerância à lactose secundária: surge como consequência de outras condições que afetam o intestino, como doenças inflamatórias, doença celíaca, infecções intestinais ou alergia à proteína do leite. Essa forma pode ser temporária e desaparecer quando a condição é tratada ou controlada.

Sintomas

Os sintomas da intolerância à lactose afetam principalmente o sistema digestivo. Segundo Mariana Marques, nutricionista especializada em saúde da mulher, tanto adultos quanto crianças costumam apresentar sinais como inchaço na barriga, cólicas abdominais, diarreia, excesso de gases e náuseas. Ela também alerta que algumas pessoas podem ter ardor ao evacuar e assaduras devido à acidez das fezes. “Esses sintomas tendem a aparecer minutos ou horas após a ingestão de leite, seus derivados (como queijos, manteiga, creme de leite e leite condensado) ou alimentos que contêm leite como ingrediente (como sorvete, mingau e pudim)”, ressalta.

Diagnóstico

Marques destaca que, para diagnosticar a intolerância à lactose, além da avaliação clínica, existem três exames específicos: “No teste de intolerância à lactose, o paciente toma uma dose de lactose (o açúcar do leite) em jejum. Após algumas horas, são coletadas amostras de sangue para verificar os níveis de glicose (um tipo de açúcar). Se não houver aumento nos níveis de glicose, isso pode indicar intolerância à lactose, pois o corpo não consegue digerir bem a lactose”, explica.

O segundo exame é o teste de hidrogênio na respiração. Ela ressalta que o procedimento mede a quantidade de gás que o paciente exala depois de ingerir lactose. “Se houver muito hidrogênio, isso sugere que o corpo está tendo dificuldade em processar a lactose”, explica. 

Por fim, o último exame envolve a acidez das fezes. “É examinada uma amostra de fezes do paciente para verificar a acidez. Se estiverem mais ácidas, pode ser um sinal de que o paciente não está digerindo a lactose corretamente, indicando intolerância à lactose”, esclarece.

Se a intolerância à lactose for confirmada,  Marques recomenda como primeiro passo o ajuste da dieta. “A pessoa deve procurar alternativas ou optar por produtos lácteos naturalmente baixos em lactose”, indica.

Tratamento ou controle

Como a intolerância não é uma doença, mas uma dificuldade do corpo para digerir a lactose, ela pode ser controlada com mudanças na alimentação e, às vezes, com medicamentos. “Assim que a pessoa descobre essa condição, é recomendado evitar produtos que contêm lactose, como leite, queijo e iogurte, para aliviar os sintomas. Depois de um período sem esses alimentos, eles podem ser reintroduzidos aos poucos, para identificar a quantidade que a pessoa pode consumir sem ter desconforto”, destaca Pereira. 

Segundo a médica nutróloga, a ideia é permitir que a pessoa consuma pequenas porções, conforme a sua tolerância, para garantir a ingestão de cálcio, um mineral essencial para a saúde dos ossos. No entanto, ela explica que se for difícil consumir alimentos com lactose sem sentir sintomas, existem suplementos de lactase e produtos lácteos com baixo teorque podem ajudar a manter uma dieta equilibrada.

Recomendações

  • Leia rótulos e bulas de medicamentos: verifique cuidadosamente os rótulos dos alimentos e a bula dos medicamentos para identificar a presença de lactose. Isso é fundamental para evitar produtos que possam desencadear sintomas;
  • Escolha leite e derivados sem lactose: adote versões sem lactose de produtos lácteos como leite, queijo, iogurte e sorvete, além de alternativas à base de soja, arroz ou aveia;
  • Suplementos de lactase: para consumir produtos lácteos convencionais, considere tomar suplementos de lactase antes das refeições para ajudar na digestão da lactose;
  • Fontes alternativas de cálcio: incorpore à dieta alimentos ricos em cálcio, como verduras de folhas verdes (brócolis, couve, espinafre), feijões, tofu, peixes (salmão, sardinha), mariscos, amêndoas e gergelim, para garantir a ingestão adequada de cálcio sem produtos lácteos;
  • Evitar alimentos processados com lactose escondida: fique atento a alimentos processados, como certos molhos, alimentos congelados e doces, que podem conter lactose;
  • Mantenha um diário alimentar: anote os alimentos consumidos e registre os sintomas para identificar padrões e ajustar a dieta conforme necessário;
  • Experimente produtos à base de plantas: além do leite de soja, arroz e aveia, explore uma variedade crescente de produtos à base de plantas que substituem produtos lácteos, como queijos e manteigas veganas;
  • Alimentos sem lactose no pão francês e pão-de-ló: o leite de vaca geralmente não é usado como ingrediente no pão francês ou no pão-de-ló, tornando-os opções seguras para pessoas com intolerância à lactose;

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