Cerveja na dieta: é possível emagrecer apesar dela?

Quer saber se pode dar aquela escapadinha e tomar uma cervejinha durante a sua dieta? Saiba aqui!

17 de março de 2023 - às 00h27 (atualizado em 4/3/2024, às 15h41)

amigos confraternizam bebendo cerveja
Crédito:

Envato

Escrito por

Júnior Ferreira

Redator

Os brasileiros são mundialmente conhecidos pelo amor à cerveja, tanto que ela se tornou parte da nossa cultura. Prova disso é um levantamento feito pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, em 2021, que apontou o expressivo número de cervejas registradas no país: 1549. A pesquisa mostra um crescimento de 166 registros a mais do que no ano anterior. Em nível nacional, o levantamento atesta que o Brasil tinha, naquele ano, uma cervejaria registrada para cada 137.713 habitantes.

A instituição financeira alemã, Deutsche Bank, realizou em 2014 uma pesquisa que mostrou que, em média, o brasileiro gasta 14% do seu salário em cerveja, enquanto um ranking da líder mundial de suprimentos de lúpulos, também alemã, Barth-Haas Group, aponta o Brasil como 17° maior consumidor de cerveja do mundo, com uma média de consumo anual de 62 litros.

Olhando por esse lado, faz sentido o brasileiro não querer abrir mão da sua cerveja durante uma dieta. Muitas pessoas que apreciam a bebida e já precisaram fazer dieta por algum motivo – estética, saúde, ou aquela sagrada meta de chegar ao verão com o corpinho em cima -, podem ter se perguntado alguma vez: Será que tomar uma cerveja durante a dieta faz mal?

Boas notícias! Beatriz Santos, nutricionista e especialista em nutrição clínica, afirma que é possível emagrecer sem abrir mão da cerveja, ela afirma que se a pessoa possui uma dieta saudável e pratica atividade física regularmente, não será a cerveja que vai impedi-la de perder peso. Ela também ressalta que, em excesso, toda bebida alcoólica pode engordar. Pois o que determina o valor calórico da bebida é o teor alcoólico e a quantidade de carboidratos, gorduras ou proteínas na fórmula. A dica da profissional é o equilíbrio.

Todo nutricionista ou endocrinologista, dirá primeiramente que o ideal é não beber; mas, na prática, a cerveja e outras bebidas alcoólicas estão sempre muito presentes de forma cultural e social na vida dos brasileiros. Sabendo disso, e também que muitas vezes restringir completamente não funciona, profissionais prescrevem dietas mais personalizadas e adaptadas de acordo com a vida e objetivos do paciente, sendo possível até incluir a desejada cerveja na dieta.

Vale citar que a OMS (Organização Mundial de Saúde), defende que uma lata ao dia para as mulheres, e até duas para os homens não são prejudiciais à saúde. O problema está no excesso, como com qualquer alimento.

 

A cerveja na dieta

Marcelo Miranda, médico endocrinologista do Vera Cruz Hospital, explica que a cerveja é uma bebida à base de grãos e consequentemente tem calorias de duas fontes: o álcool e os carboidratos dos grãos. Muitos se referem à cerveja como pão líquido, pois uma lata de cerveja de 350 ml tem cerca de 150 calorias, muito semelhante a duas fatias de pão de forma ou um pão francês grande. Além disso, a cerveja costuma vir acompanhada de petiscos e refeições gordurosas, de amendoins e torresmos a churrascos.

Sendo assim, a cerveja acrescenta muitas calorias à dieta, tanto pela alta densidade calórica (muitas calorias por volume), como pela quantidade que habitualmente é consumida. O impacto é grande mesmo quando o consumo ocorre apenas um ou dois dias da semana. “Por exemplo, quatro a cinco latas de cerveja equivale à metade das calorias diárias de dietas de 1200 a 1500 calorias, comumente prescritas para redução de peso. Isso sem contar os petiscos”, afirma Miranda. É possível manter fontes de carboidratos diversas na dieta se houver moderação. Isso vale também para a cerveja. Mas para muitas pode ser difícil, a princípio, restringir a quantidade de cerveja, tanto em volume como em frequência, principalmente por causa da pressão social.

O consumo de um copo de 250 ml de cerveja possui cerca de 100 calorias, isso é menos do que um copo de leite, que possui cerca de 134, ou um iogurte de frutas, que tem aproximadamente 205 calorias. O motivo da cerveja ser tão mal vista é o alto consumo, visto que dificilmente alguém toma apenas um copo ou lata de cerveja.

Pode causar espanto saber que uma lata de cerveja tem praticamente a mesma quantidade de calorias que um pão francês, mas para se ter a dimensão de seu valor calórico, também pode-se dizer que para consumir uma quantidade de carboidratos igual a de seis latas de cerveja, seria necessário comer mais de 1 kg de morangos.

Uma boa dica para o dia em que a pessoa for beber é reduzir a quantidade de carboidratos e gorduras nas refeições, para compensar as calorias ingeridas no consumo do álcool. Cortar uma fatia de pão no café, comer menos arroz no almoço, comer algo leve à tarde, e incluir a cerveja (com moderação) na cota de calorias do dia, por exemplo.

Outra boa prática para ajudar a diminuir a ingestão de calorias, e também uma possível ressaca no dia seguinte, é intercalar o consumo de cerveja com o de água – para cada copo de cerveja, tome um de água. Ela ajuda a beber menos, pois dá a sensação de saciedade, além de também ajudar a eliminar o álcool do organismo.

Exercícios físicos sempre são positivos para potencializar os resultados de uma boa dieta, e ainda mais se a pessoa pretende beber; aliando isso ao corte de carboidratos e gorduras durante o dia, abre-se espaço para a cerveja na dieta daquele dia.

Beber devagar também é benéfico para manter a moderação, além do que, o álcool reduz a capacidade do fígado de processar gordura e, consequentemente, mais gordura ficará no corpo. Se a pessoa estiver em uma festa ou barzinho, dançar ajudará a queimar parte dessas calorias.

Se a dieta é daquelas que permite ter uma “refeição do lixo”, ou “um dia do lixo”, o melhor é deixar a cerveja para esses momentos. Deve-se lembrar de que o álcool possui grandes quantidades de calorias, ele só perde para as gorduras, então quanto menos se coloca em prática a cerveja acompanhada de petiscos, mais perto se está do seu objetivo.

 

Melhor tipo de cerveja para dieta

Não existe uma fórmula mágica, mas se possível, opte por cervejas com menor teor alcoólico, pois quanto mais alto, mais calorias se estará ingerindo.

Beatriz diz que as cervejas puro malte costumam ser a melhor opção para quem está numa dieta para perda de peso, porque elas normalmente possuem menos calorias, por não terem trigo e seus derivados na  composição. Ela também lembra que existem opções light e sem álcool, que possuem menos calorias.

Mas deve-se dar atenção a um fato. Por terem menor teor alcoólico, algumas pessoas acabam bebendo mais para sentirem os efeitos da bebida quando consomem cervejas light, o que às vezes resulta em uma ingestão ainda maior de álcool e calorias.

Miranda por sua vez, defende que a crença de que cervejas puro malte têm menos calorias, se comparadas às outras mais populares, feitas com cereais não maltados (como o milho) é um mito, já que a diferença nos carboidratos é insignificante e nada muda em calorias. Já as cervejas artesanais costumam ser mais calóricas devido ao maior teor alcoólico, enquanto as escuras têm mais calorias por conterem mais carboidratos.

“Isso pode ser compensado pelo consumo em menor volume do que com as cervejas mais populares, mas nem sempre é o que acontece. Agora existem sim cervejas que podem ser vantajosas para situações específicas, como a cerveja light (açúcares reduzidos) e a zero álcool (para evitar os efeitos tóxicos do álcool), ambas com redução de calorias de até 50% em relação às convencionais”, defende o endocrinologista.

 

Cerveja engorda?

O endocrinologista explica que o excesso de calorias que ultrapassa o gasto de energia se acumula na forma de gordura corporal. Não importando a fonte do alimento ou da bebida. A cerveja, somada à alimentação habitual, quase sempre entra como excedente e, portanto, facilmente contribui para o ganho de peso. “Como essa caloria extra entra em grandes quantidades em curtos espaços de tempo, a gordura tende a se acumular mais rapidamente na região do abdome. Principalmente em pessoas que já têm predisposição a concentrar gordura nessa região, como homens e mulheres na pós-menopausa”, esclarece Miranda.

O profissional destaca que o principal órgão que sofre acúmulo de gordura é o fígado (esteatose hepática), que passa despercebida, silenciosa, mas pode evoluir para inflamação e, em último estágio, falência grave (cirrose).

Durante a digestão, o álcool se torna açúcar, o que faz com que o corpo absorva mais calorias, assim como com os carboidratos vindos da cevada. Vale lembrar que diferente do que acontece com outros alimentos, as calorias vindas do álcool são calorias totalmente vazias, ou seja, não trazem consigo nada positivo para o organismo. Muitas vezes, após beber cerveja surge uma sensação de fome, isso acontece porque ela aumenta a produção de insulina em nosso corpo, o que, em excesso, faz com que o organismo armazene gordura. Então, sim. O consumo exagerado faz com que a pessoa engorde.

Beatriz Santos confirma que a cerveja pode interferir no peso, porém, ela em si não é responsável por dar aquela barriguinha. “O problema de beber excessivamente é que isso dá um grande trabalho extra para o fígado, que precisa se concentrar em queimar o álcool e eliminar suas toxinas, o que faz com que outros alimentos deixem de passar pelo fígado”, adverte a nutricionista.

Uma ótima dica é não beber de estômago vazio, saciando-se de alimentos que estão na dieta antes de beber, pois ela faz com que o corpo deseje alimentos fritos e ricos em carboidratos, tornando muito mais difícil, uma pessoa sob os efeitos do álcool, escolher alimentos mais saudáveis como acompanhamento. Há uma frase que diz que o que engorda são as coisas que escolhemos para comer com a cerveja, e ela tem a sua lógica.

 

Outros efeitos da cerveja

O fato da cerveja ter ação diurética, faz com que a concentração de sódio no sangue aumente, causando a retenção de líquidos e aquela conhecida sensação de inchaço nos dias seguintes.

Para quem pratica musculação, exagerar no consumo do álcool pode gerar sono, indisposição e potencializar o catabolismo muscular, que é a degradação dos músculos, prejudicial aos resultados de hipertrofia (o crescimento muscular).

Deve-se lembrar que os malefícios do álcool, não só da cerveja, mas de todas as bebidas, não refletem somente na dieta e treinos. O álcool diminui as atividades do sistema nervoso, além de reduzir as funções motoras e cognitivas. É uma substância viciante e o seu consumo frequente em altas quantidades pode tornar-se compulsivo. Então, o ideal, independente de estar seguindo uma dieta, é sempre consumi-lo de forma moderada e consciente.

 

Benefícios da cerveja na dieta

Beatriz conta que a cerveja também pode trazer benefícios. “Alguns estudos mostram que, se consumida moderadamente, a cerveja pode diminuir os riscos de ataques cardíacos e doenças cardiovasculares em até 40%. Outros estudos mostraram que, pessoas que consomem cerveja com moderação, têm 23% menos chances de desenvolver Alzheimer e outras demências, do que pessoas que nunca consomem a bebida, e a cevada apresenta muitos benefícios para a pele”.

Já Miranda afirma que embora seja controverso, alguns cientistas sugerem que o consumo de bebida alcoólica em doses baixas poderia reduzir o risco de problemas cardíacos e aliviar o estresse. Entretanto, isso não elimina o risco ligado ao consumo do álcool. “Não existe dose segura, mas os efeitos nocivos aumentam ao ultrapassar duas doses por dia para homens ou uma dose por dia para mulheres (cada dose equivale a uma latinha de cerveja de 350 ml), mesmo se não consumir todo dia”, pondera o endocrinologista. Ele ainda alerta para o fato de que homens consumirem mais de dez doses ou mulheres mais de sete doses em um único dia, implica em maior toxicidade para o organismo.

Também consumida moderadamente, a cerveja pode reduzir os riscos de desenvolvimento de cálculos renais em até 40%. E ainda, de acordo com uma publicação da revista científica internacional Medical Molecular Morphology, o lúpulo conta com propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, que podem prevenir a gripe e até pneumonia, além de diminuir o estresse.

 

Do que é feita a cerveja?

Geralmente, as cervejas são compostas por lúpulo, água, leveduras e malte, esse último, na maioria das vezes é de cevada, mas também pode ser de trigo, centeio, aveia, arroz e outros tipos. Esses são os quatro ingredientes mais básicos de uma cerveja e dão origem a diferentes variedades da bebida (existem mais de 120 tipos).

Sim, o álcool não é adicionado à bebida, ele é produzido naturalmente, durante a fermentação feita pelas leveduras, e nesse processo, o que antes tinha quatro calorias de carboidrato ou açúcar, passa a ter sete, praticamente o dobro.

 

Dicas dos profissionais

O ideal é sempre consultar um profissional, para que ele monte uma dieta personalizada. Mas a nutricionista Beatriz Santos e o endocrinologista Marcelo Miranda deixam aqui algumas dicas.

“O grande segredo é o equilíbrio. Você não precisa deixar de beber socialmente e moderadamente, mas se o objetivo é emagrecer, o ideal é equilibrar o consumo, escolhendo marcas com baixas calorias em conjunto com exercício físico e uma alimentação saudável”, aconselha Beatriz.

Miranda lembra que médicos não aconselham o uso de bebida alcoólica, principalmente para quem tem doenças metabólicas, como diabetes, obesidade e doença gordurosa do fígado, mas que por questões culturais seu uso é aceitável, e no caso da cerveja, a preferência é pelas versões zero álcool e light. O que vale é a moderação.

Também é importante seguir as dicas e não beber de estômago vazio e preferir alimentos ricos em proteína, antes e também se for petiscar com a cerveja. Além disso, evitar os acompanhamentos que são cheios de carboidratos e gorduras.

 

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