Alimentação na primeira infância: orientações para pais e cuidadores

Descubra como a alimentação nos primeiros anos de vida é essencial para garantir um crescimento saudável para as crianças

17 de outubro de 2023 - às 14h44 (atualizado em 17/10/2023, às 14h44)

Bebê se alimenta com mamadeira
Crédito:

Envato

Escrito por

Dayana Bonetto

Redatora Let's Move 360

A alimentação na primeira infância é de extrema importância, já que é a fase em que as crianças crescem fisicamente e se desenvolvem cognitivamente. De acordo com Valéria Goulart, médica nutróloga, especialista em endocrinologia pediátrica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), a escolha dos alimentos nesse período garante que esse processo ocorra de forma saudável e desempenha um papel crucial na formação de hábitos que podem durar a vida toda.

 

A primeira infância geralmente é definida como o período que vai desde o nascimento até os 6 anos de idade, segundo o Ministério da Saúde (MS) No entanto, quando se trata de desenvolvimento infantil e cuidados com a alimentação, é considerada a fase do zero aos 2 anos.

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que os bebês sejam alimentados exclusivamente com o leite materno até completarem seis meses, prática que traz resultados positivos na sobrevivência e na saúde, tanto na infância quanto na vida adulta. Goulart explica que o leite materno contém energia e nutrientes adequados ao grau de maturidade fisiológica da criança. Além disso, ela destaca que, quando a criança é submetida ao aleitamento materno exclusivo (AME), tem menos chances de desenvolver doenças crônicas não transmissíveis na infância, adolescência e vida adulta. Em contrapartida, Goulart alerta que oferecer alimentos de forma inadequada na dieta do bebê pode prejudicar a saúde, especialmente se feito antes que o corpo da criança esteja preparado. “Isso pode aumentar o risco de problemas, como contaminação, alergias, e dificultar a absorção de nutrientes importantes do leite materno, podendo levar ao desmame precoce”, explica. 

 

Alimentação complementar: alimentos sólidos

 

A partir dos seis meses, a OMS recomenda iniciar a alimentação complementar, uma vez que a quantidade e a composição do leite materno já não são suficientes para atender às necessidades nutricionais do bebê, o que pode atrasar o crescimento e aumentar o risco de deficiência de nutrientes. Goulart destaca algumas diretrizes para fazer isso de maneira correta:

 

  • Tempo adequado: a partir dos seis meses de idade, o sistema digestivo e a capacidade de deglutição da criança estão mais desenvolvidos, tornando-a pronta para a transição dos alimentos líquidos para os sólidos;

 

  • Comece com papinhas: inicie com papinhas de frutas e vegetais amassados ou processados de forma apropriada para a idade da criança. Evite alimentos muito duros ou pequenos que possam representar um risco de engasgamento;

 

  • Um alimento de cada vez: ofereça um novo alimento a cada dia e não de uma só vez. Isso permite identificar qualquer reação alérgica ou intolerância alimentar. Mantenha um registro do que a criança come para acompanhar possíveis alergias;

 

  • Texturas graduais: à medida que a criança se adapta a alimentos sólidos, aumente gradualmente a textura das comidas. Comece com purês e, progressivamente, ofereça alimentos mais sólidos, como pedaços macios de frutas e legumes;

 

  • Evite açúcar e sal em excesso: evite a adição de açúcar e sal aos alimentos da criança. O paladar da criança ainda está se desenvolvendo, e é importante acostumá-la a sabores naturais;

 

  • Alimentos nutritivos: priorize alimentos ricos em nutrientes, como frutas, vegetais, cereais integrais, proteínas magras e laticínios adequados para a idade. Esses alimentos fornecem os nutrientes necessários para o crescimento;

 

  • Ofereça variedade: ofereça uma variedade de alimentos para garantir que a criança receba uma ampla gama de nutrientes. Isso ajuda a desenvolver hábitos alimentares saudáveis;

 

  • Atenção ao tamanho das porções: mantenha as porções pequenas, especialmente no início. O apetite da criança pode variar, e forçá-la a comer pode criar aversão aos alimentos;

 

  • Supervisão durante as refeições: sempre supervisione a criança enquanto ela come. Evite distrações, como dispositivos eletrônicos, durante as refeições para que ela possa se concentrar na comida;

 

  • Cuidado com alimentos alergênicos: introduza alimentos alergênicos, como ovos, amendoim ou frutos do mar, de forma gradual e sob orientação médica, especialmente se houver histórico de alergias na família;

 

  • Ofereça água: à medida que a criança começa a comer sólidos, ofereça água pura em pequenas quantidades para mantê-la hidratada;

 

  • Acompanhamento médico e nutricional: consulte um pediatra ou nutricionista para orientação personalizada. Eles podem fornecer recomendações específicas com base nas necessidades da criança.

 

12 passos para uma alimentação saudável na primeira infância

 

Para orientar pais e responsáveis sobre as principais etapas para uma alimentação saudável na primeira infância, o Ministério da Saúde lançou o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos. Ele traz em 12 passos recomendações e informações que contribuem nesse processo:

 

  1. Amamentar até 2 anos ou mais, oferecendo somente o leite materno até os 6 meses

 

  • O leite materno é muito importante para a criança até os 2 anos, sendo o único alimento que a criança deve receber até os 6 meses, sem necessidade de água, chá ou qualquer outro alimento. Começar a amamentação logo após o nascimento, na primeira hora de vida, traz benefícios para a criança e para a mãe. A composição do leite materno é única, personalizada e atende às necessidades nutricionais da criança conforme sua idade, protege contra doenças na infância e na vida adulta, ajuda o desenvolvimento do cérebro e fortalece o vínculo entre mãe e criança;

 

  1. Oferecer alimentos in natura ou minimamente processados, além do leite materno, a partir dos 6 meses

 

  • Nessa fase, outros alimentos saudáveis devem ser apresentados para o bebê e fazer parte de suas refeições. Para estimular o paladar da criança, os responsáveis devem apresentar a maior diversidade possível de alimentos in natura ou minimamente processados e de diferentes grupos, como feijões, cereais, raízes e tubérculos, frutas, legumes e verduras, além de carnes;

 

  1. Oferecer água própria para o consumo em vez de sucos, refrigerantes e outras bebidas açucaradas

 

  • Após os 6 meses de vida, o bebê passa a consumir água, que deve ser ofertada no intervalo entre as refeições. Em locais onde não há tratamento de água, ela deve ser filtrada e tratada com solução de hipoclorito de sódio a 2,5%, misturando 2 gotas da solução para cada 1 litro de água e aguardando 30 minutos (ou conforme as orientações da embalagem) para ser consumida num período de 24 horas. Na falta do hipoclorito, deve-se ferver a água por 5 minutos antes de beber. Espere esfriar antes de ofertar à criança;

 

  1. Oferecer comida amassada quando a criança começar a comer outros alimentos além do leite materno

 

  • A oferta de alimentos amassados e picados (no caso de carnes, por exemplo) faz parte do processo de introdução alimentar e permite que as crianças se familiarizem com a consistência de cada comida até que aprenda a mastigar. Esse é um aprendizado progressivo e passa por algumas etapas, como alimentos amassados, picados em pedaços pequenos, ralados ou desfiados;

 

  1. Não oferecer preparações ou produtos que contenham açúcar até os 2 anos de idade

 

  • O consumo de açúcar não é necessário e causa danos à saúde, como cáries, obesidade na infância e na vida adulta pode levar a doenças crônicas, como diabetes. Além disso, acostumar a criança desde cedo ao sabor excessivamente doce pode causar dificuldade de aceitação dos alimentos in natura ou minimamente processados. Não inclua mel, açúcar de qualquer tipo (mascavo, demerara, cristal ou refinado “branco”, rapadura, melaço) na alimentação da criança, nem ofereça preparações ou produtos prontos que contenham algum desses ingredientes, como biscoitos, bolos e iogurtes. Os adoçantes (em pó ou líquido) também não devem ser usados na alimentação até os 2 anos, pois são alimentos ultraprocessados e contêm substâncias químicas não adequadas a essa fase da vida;

 

  1. Não oferecer alimentos ultraprocessados para a criança

 

  • Esses alimentos, geralmente, são pobres em nutrientes e podem conter muito sal, gordura e açúcar, além de aditivos, como adoçantes, corantes e conservantes. O consumo faz mal à saúde. Os alimentos ultraprocessados são aqueles produzidos de forma completamente industrial, a partir de diversas etapas de processamento e que levam em sua composição muitos ingredientes de uso industrial exclusivo, contendo pouca ou nenhuma quantidade de alimentos in natura;

 

  1. Cozinhar a mesma comida para a criança e para a família

 

  • Os alimentos oferecidos podem ser os mesmos, sem excesso de gordura, sal e condimentos e adaptados na consistência sempre que necessário. Isso estimula o bebê no processo de introdução alimentar e ainda promove alimentação saudável para a família toda;

 

  1. Zelar para que a hora da alimentação da criança seja um momento de experiências positivas, aprendizado e afeto

 

  • É fundamental que toda família valorize o momento da alimentação. Comer juntos ajuda a criança a se interessar em experimentar novos alimentos e torna as refeições mais prazerosas. O ambiente acolhedor, tranquilo e a boa relação entre a criança e as pessoas que cuidam dela podem influenciar de forma positiva;

 

  1. Prestar atenção aos sinais de fome e saciedade da criança e conversar com ela durante a refeição

 

  • Os sinais de fome e de saciedade variam de acordo com a idade e ao perceber esses sinais, o responsável deve responder de forma ativa, carinhosa e respeitosa, oferecendo o alimento quando a criança sentir fome e parando quando ela demonstrar estar satisfeita;

 

  1. Cuidar da higiene em todas as etapas da alimentação da criança e da família

 

  • Cuidar da alimentação é uma tarefa coletiva. A atenção durante o preparo dos alimentos e a boa higiene previnem a contaminação e o risco de doenças. É importante lavar as mãos sempre que for cozinhar e alimentar a criança, depois de usar o banheiro, trocar fralda ou realizar tarefas no cuidado da casa. Também é fundamental sempre lavar as mãos da criança;

 

  1. Oferecer alimentação adequada e saudável também fora de casa

 

  • Refeições preparadas com alimentos in natura e minimamente processados, em porções individuais, podem ser levadas para comer fora, como em passeios, festas e consultas de saúde. Isso evita a oferta de alimentos inadequados;

 

  1. Proteger a criança da publicidade de alimentos

 

  • Esse é um desafio enfrentado pelos responsáveis quando o assunto é alimentação saudável. Isso porque os ultraprocessados estão presentes nos comerciais de televisão, outdoors, cartazes, revistas, jogos eletrônicos e redes sociais, chamando a atenção. Ao levar a criança para supermercados, saia de casa com ela alimentada ou leve um lanche saudável. Menores de 2 anos não devem utilizar televisão, celular, computador ou tablet.

 

Alimentos recomendados na primeira infância 

 

Goulart ressalta que é importante existir variedade de alimentos para garantir que a criança obtenha todos os nutrientes necessários. Ela indica:

 

  • Leite materno: o aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses é essencial. O leite materno fornece todos os nutrientes necessários, incluindo proteínas, gorduras saudáveis, vitaminas e minerais. Além disso, ele contém anticorpos que fortalecem o sistema imunológico do bebê;

 

  • Frutas e vegetais: são ricos em vitaminas, minerais e fibras. Eles ajudam no crescimento, fornecem antioxidantes que protegem o corpo e promovem a saúde intestinal. Variedade é fundamental para garantir a ingestão de diferentes nutrientes;

 

  • Cereais integrais: Cereais integrais, como aveia, quinoa e arroz integral são fontes de carboidratos complexos, que fornecem energia de forma sustentável. Eles também são ricos em fibras e nutrientes essenciais;

 

  • Proteínas magras: carne magra, frango, peixe, ovos e leguminosas (feijão, lentilhas, grão-de-bico) são excelentes fontes de proteína. A proteína é fundamental para o crescimento e o desenvolvimento muscular;

 

  • Laticínios: leite, iogurte e queijo são boas fontes de cálcio e proteína. O cálcio é essencial para o desenvolvimento dos ossos e dentes das crianças;

 

  • Gorduras saudáveis: alimentos ricos em gorduras saudáveis, como abacate, nozes e sementes, são importantes para o desenvolvimento cerebral e a absorção de vitaminas lipossolúveis, como as vitaminas A, D, E e K;

 

  • Água: a hidratação adequada é fundamental. Água pura é a melhor opção para manter as crianças hidratadas. Bebidas açucaradas devem ser evitadas;

 

  • Peixes ricos em Ômega-3: peixes como salmão, sardinha e atum são ricos em ácidos graxos ômega-3, que são essenciais para o desenvolvimento do sistema nervoso central e podem beneficiar o desenvolvimento cognitivo;

 

  • Ovos: são uma excelente fonte de proteína, vitamina D e colina, que são importantes para o desenvolvimento cerebral;

 

  • Legumes e grãos: legumes como feijão, lentilhas e grãos integrais como quinoa são ricos em fibras, proteínas e nutrientes importantes para o crescimento.

 

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