Desintoxicação digital: encontre o equilíbrio entre a tecnologia e o bem-estar

O uso excessivo dos meios digitais tem sido associado a uma série de problemas que podem afetar o bem-estar mental e emocional das pessoas

18 de agosto de 2023 - às 14h30 (atualizado em 28/11/2023, às 15h26)

Jovem mulher deitada na cama mexendo no celular
Crédito:

Envato

Escrito por

Dayana Bonetto

Redatora Let's Move 360

Desintoxicação digital é o ato de se desconectar de dispositivos tecnológicos como smartphones, televisores, computadores, tablets e redes sociais. Ao dar um tempo desses aparelhos, é possível reduzir problemas físicos, como danos à visão, ao punho e à coluna cervical, além de insônia e ansiedade causadas pela constante conexão, e focar mais nas relações sociais e no bem-estar mental. Essa prática também contribui para uma qualidade de sono melhor, já que a exposição à luz das telas pode afetar negativamente o repouso. Isso resulta em uma mente mais clara, melhora a saúde mental, e fortalece os laços interpessoais. A desintoxicação digital funciona como um lembrete importante para encontrar o equilíbrio entre o mundo online e offline, além de promover uma consciência mais saudável em lidar com a era digital.

 

Segundo pesquisa global da We Are Social e HootSuite – Digital 2023 – VISÃO GERAL GLOBAL, em 2023, aproximadamente 5,44 bilhões de pessoas, o que representa 68% da população mundial, usam celulares. No último ano, houve um aumento de 168 milhões de novos usuários. Além disso, 5,16 bilhões de pessoas (ou 64,4% da população global) estão conectadas à internet, com um crescimento de 1,9% no último ano. Quanto às redes sociais, o relatório indica que elas contam com aproximadamente 4,76 bilhões de usuários ao redor do mundo, abrangendo quase 60% da população global. No entanto, o crescimento anual está mais lento, com cerca de 137 milhões de novos usuários este ano, representando um aumento de apenas 3% em relação ao ano anterior. Apesar do crescimento de pessoas conectadas, o estudo aponta que no último ano, os internautas reduziram o tempo online. Atualmente, eles gastam mais de 2 horas e meia nas mídias sociais todos os dias – 40 minutos a mais do que assistindo a transmissão de TV a cabo. 

 

Em 2022, de acordo com relatório Digital in 2022: Brazil da Hootsuite e We Are Social, os brasileiros passaram em média mais de 10h por dia na internet, sendo 3 horas e 41 minutos nas redes sociais.

 

Tanya Goodin, fundadora da empresa especializada em desintoxicação digital chamada Time To Log Off (Hora de desconectar) em Londres, indica que reservar uma ou duas horas por dia já é o suficiente para reajustar e acalmar a mente da constante estimulação digital. No entanto, ela recomenda um período de desconexão de 24 horas para colher benefícios mais significativos.

 

Carla Abreu, psicóloga hospitalar da Santa Casa de São José dos Campos, enfatiza que essa abordagem não é única, pois pode variar de acordo com as atividades pessoais e profissionais de cada indivíduo. “Não há um tempo específico. Isso depende da rotina da pessoa, do trabalho, da vida pessoal, do estilo de vida, entre outros fatores”, pontua. 

 

Compreender o equilíbrio entre as necessidades digitais e a busca por momentos offline é essencial para uma abordagem bem-sucedida de desintoxicação digital, adaptada às particularidades de cada um.

 

Tecnologias Digitais: impactos do uso excessivo

 

O uso excessivo dos meios digitais tem sido associado a uma série de problemas que podem afetar o bem-estar mental e emocional das pessoas. Essas questões podem surgir devido a vários fatores interligados que merecem atenção.

 

Segundo informações do Datafolha 2022 e da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata), quase 38% dos brasileiros sentem pressão nas redes sociais, temendo julgamentos, e cerca de um terço enfrenta ansiedade pela aceitação de suas postagens. Foram ouvidos 2.098 entrevistados a partir dos 16 anos, de várias classes econômicas, em 130 municípios de diferentes regiões do Brasil, com uma margem de erro de dois pontos percentuais. Entre os dados divulgados, 65% sentem a necessidade de retratar uma visão positiva nas redes, mesmo em meio a problemas, especialmente mulheres (71%) e jovens de 16 a 24 anos (65%).

 

A comparação social é um dos principais desafios decorrentes do uso intensivo das redes sociais. Quando as pessoas se deparam com imagens e histórias idealizadas de outras vidas, é comum se compararem e se sentirem inadequadas. Isso pode levar a sentimentos de baixa autoestima e insatisfação pessoal. Além disso, o cyberbullying também é um problema real nas redes sociais, onde comentários negativos, insultos e ameaças podem ter um impacto devastador na saúde mental das vítimas. A exposição constante a notícias negativas e debates acalorados também pode contribuir para sentimentos de ansiedade, desesperança e estresse.

 

Carla Cavalheiro Moura, psicóloga clínica e colaboradora do Grupo de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq HCFMUSP), destaca que outro desafio é o isolamento social, que pode resultar do foco excessivo nas interações online em detrimento das relações no mundo real. “As pessoas relatam muita solidão, muita dificuldade de socialização. Nos relacionamentos familiares, têm um impacto muito grande no bem-estar dessas pessoas, na saúde mental dessas pessoas. Além disso, os impactos físicos, como problemas de coluna, dores musculares e dores de cabeça, surgem por conta do uso excessivo, do tempo excessivo”, alerta.

 

Segundo Andréa Ladislau, psicanalista e doutora em psicanálise contemporânea, utilizar as tecnologias disponíveis sem um devido controle e equilíbrio certamente ocasionará o aumento dos distúrbios e descontroles emocionais. “Esses hábitos culminam em doenças e sintomas diversos, como por exemplo, transtorno de dependência da internet, nomofobia – que é o medo de ficar sem celular -, o TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) e também a síndrome do toque fantasma, na qual a pessoa tem sempre a sensação de que o aparelho está vibrando ou tocando, quando na realidade são apenas breves delírios. Esses transtornos se associam a sintomas diversos, como ansiedade, irritabilidade, alterações de humor e sono, além da própria depressão”, ressalta. Ladislau completa ainda que existem outros transtornos relacionados à distorção da realidade. “O indivíduo fica fascinado e iludido por uma vida irreal mostrada na vitrine das redes sociais. Quando percebe sua realidade, completamente diferente, sente-se frustrado e perdido”, explica. 

 

Dicas de detox digital

 

  • Priorize contato pessoal: dedique tempo para interações face a face com amigos e familiares, fortalecendo relações reais;

 

  • Estabeleça horários: defina horários específicos para usar dispositivos e redes sociais. Isso ajuda a evitar o uso excessivo ao longo do dia;

 

  • Desligue notificações: desative as notificações para reduzir interrupções e o impulso de verificar constantemente o telefone;

 

  • Crie espaço offline: reserve momentos sem tecnologia, como nas refeições ou antes de dormir, para se desconectar e relaxar;

 

  • Organize as redes sociais: siga apenas o que é relevante e valioso, evitando sobrecarga de informações desnecessárias;

 

  • Use modo noturno: ative o modo noturno nos dispositivos para reduzir a luz azul e ajudar a melhorar o sono;

 

  • Faça pausas regulares: a cada hora, faça pequenas pausas para alongar, descansar os olhos e se desconectar por alguns minutos;

 

  • Defina metas de uso: estabeleça limites diários de tempo para o uso de dispositivos, ajudando a controlar o tempo gasto online;

 

  • Explore atividades offline: descubra hobbies ou atividades que não envolvam tecnologia, como ler, praticar esportes ou fazer artesanato;

 

  • Deixe o celular distante: mantenha o celular longe do alcance durante atividades importantes ou momentos de relaxamento para resistir à tentação de verificar constantemente;

 

  • Limite o tempo de TV: estabeleça um limite diário para assistir à televisão, evitando passar horas excessivas diante da tela;

 

  • Reduza jogos: diminua o tempo gasto em jogos online ou de videogame, garantindo um equilíbrio com outras atividades;

 

  • Desconecte-se do Smartwatch: tire intervalos do uso constante do smartwatch para não ficar preso à monitorização digital o tempo todo;

 

  • Evite multitarefa digital: foque em uma tarefa digital de cada vez, evitando multitarefa para reduzir a sobrecarga mental;

 

  • Redescubra a leitura impressa: reserve momentos para ler livros físicos ou revistas, alternando com o conteúdo digital.

 

 

 

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